A invasão de privacidade silenciosa: os riscos das vulnerabilidades dos smartphones e o cuidado com as câmeras de segurança conectadas à internet
Nos tempos modernos, os smartphones se tornaram uma
extensão de nossas vidas, auxiliando-nos em tarefas diárias, mantendo-nos
conectados e proporcionando entretenimento instantâneo. No entanto, enquanto
desfrutamos dos benefícios desses dispositivos, é crucial estarmos cientes dos
riscos que eles representam para a nossa privacidade, especialmente quando se
trata da gravação de áudio e vídeo dentro de nossas casas, no interior dos
nossos quartos, além do risco da conexão de nossas câmeras de segurança ligadas
à rede mundial de computadores.
A vulnerabilidade despercebida
Muitas pessoas acreditam erroneamente que a
privacidade em suas casas está completamente segura. No entanto, com a
proliferação de dispositivos inteligentes, como câmeras de segurança, termostatos,
TV com câmeras, assistentes de voz, lâmpadas inteligentes com câmeras e
dispositivos conectados à Internet das Coisas (IoT), nossos lares se tornaram
vulneráveis a invasões não autorizadas. A “Internet das Coisas” (em inglês,
Internet of Things, ou IoT) corresponde a uma revolução tecnológica que tem
como objetivo conectar itens usados no dia a dia, como eletrodomésticos, meios
de transporte, tênis, roupas e até maçanetas, à rede mundial de computadores.
Sem que as pessoas percebam, estamos criando um ambiente com pretexto
tecnológico, mas ao mesmo tempo, nos tornando cada dia mais vulneráveis em
termos de privacidade de imagens, vídeos e dados. A questão se torna ainda mais
complexa quando esses dados são vazados por conta de ataques de hacker s à base
de dados dessas empresas que controlam as redes sociais. Recentemente a Justiça
Estadual de Minas Gerais (TJMG) condenou o Grupo Meta ao pagamento de R$ 10
milhões de reais, a título de dano moral coletivo e R$ 5 mil reais a título de
dano moral individual, pelo vazamento de dados de milhões de usuários entre os
anos de 2018 e 2019. Onde e nas mãos de quem os dados pessoais de milhões de
usuários foram parar? Ninguém sabe!
Riscos da gravação de áudio e vídeo em casa
Entenda uma coisa de uma vez por todas: tudo que
está conectado à internet pode ser violado! Com exceção das urnas eletrônicas
brasileiras (contem ironia). Imagine que a NASA, o Pentágono, a KGB, o FBI e
outros tantos sistemas modernos e tecnológicos já foram invadidos virtualmente
por hackers, imagine se o seu celular com sistema Android não pode ser
invadido? É o sistema mais utilizado no mundo e não é um sistema fechado, mas
que traz diversas vulnerabilidades. Os smartphones de hoje estão equipados com
poderosas câmeras e microfones que podem ser ativados remotamente por
aplicativos maliciosos ou até mesmo por invasores habilidosos ou aplicativos
que você mesmo baixou e autorizou sem ler os termos de uso. Esses invasores
podem obter acesso ao seu dispositivo, gravar áudio e vídeo sem o seu
conhecimento e transmitir essas informações sensíveis para locais remotos.
Com certeza você não é o único que já percebeu que
aquela sua conversa reservada com sua esposa, dentro do quarto, sobre um
determinado bem ou produto que vocês desejam comprar, e depois você vai abrir
as suas redes sociais e de uma hora para outra, começam a aparecer propaganda
sobre aquele produto ou bem na sua linha do tempo, que você estava falando
reservadamente. Isso não é coincidência, são os aplicativos agindo e mapeando o
ambiente, ouvindo suas conversas, transformando em algoritmos que os convertem
em oferecimento de produtos em sua linha do tempo. A grande verdade é que a
vida moderna caminha para se tornar um grande “Big-Brother”. A máquina virtual
de vendas capitalista se alimenta de dados diariamente, para mapear o perfil do
que você consulta nas redes sociais.
Eles sabem tudo sobre você! Nada escapa, nenhuma
conversa apagada no WhatsApp, nenhuma pesquisa em site pornô, movimentação
bancária, sua rota é medida diariamente pelo Google que sabe onde você esteve e
quanto tempo passou em casa lugar. Nenhuma palavra dita próxima aos celulares,
nenhum clique em busca de sonhos, projetos ou desejos é dispensado, e mesmo que
você utilize o modo de navegação secreto, sua vida está sendo minuciosamente
monitorada pelas novas tecnologias. Não é teoria da conspiração, é a nova
realidade que virtualiza cada dia mais nossas vidas e mapeia nossos
comportamentos, ações e projetos.
Um relatório de segurança cibernética de 2022 revelou
que mais de 1 bilhão de dispositivos Android estavam em risco de invasão devido
a vulnerabilidades em aplicativos de gravação de áudio e vídeo. Há um jogo de
interesses gigantescos em busca de dados. Sem que você perceba, neste momento
dentro do celular, há vários aplicativos que você mesmo autorizou num clique
só, sem ler os termos de uso, sem se dar conta que autorizou apps aparentemente
confiáveis, a coletarem dados de sua vida privada, bancária ou profissional.
Sem falar nos apps invasores que dispensam autorização e entram diretamente nos
celulares ou PC’s com uma simples visita a um site, ou pelo simples clique
naquela matéria que saltou na sua tela por um “pop up” com um título chamativo
que lhe causou curiosidade.
Em 2022, a Federal Trade Commission (FTC) dos
Estados Unidos relatou um aumento acentuado nas reclamações relacionadas à
invasão de privacidade por meio de dispositivos móveis. O governador de
Montana, Greg Gianforte, assinou um projeto de lei, que proíbe o TikTok no
estado dos EUA a partir de janeiro de 2024. É a primeira proibição desse tipo
no país em razão de inúmeras denúncias mundo afora de que este aplicativo está
sendo utilizado para invadir e coletar dados de cidadãos americanos pelo
governo Chinês controlado pelo Partido Comunista. Autoridades de diversos
órgãos públicos do Canadá, Dinamarca e EUA também determinaram que funcionários
e representantes de seus governos excluam o aplicativo da rede social chinesa
TikTok de quaisquer computadores, sistemas ou celulares federais. De acordo com
os países, o aplicativo traz riscos à segurança digital de agentes do governo,
o que incluiria riscos de espionagem e exposição de dados pessoais e
institucionais.
A Conexão com Câmeras de Segurança na Internet
A interconexão de dispositivos inteligentes em
nossas casas é uma tendência crescente. Embora isso ofereça conveniência,
também aumenta o risco de invasões cibernéticas. Muitas câmeras de segurança
residencial agora são acessíveis via aplicativos de smartphone, permitindo que
os proprietários monitorem suas casas remotamente. No entanto, isso também abre
uma porta para possíveis invasões. No ano passado, nos EUA a imprensa noticiou
que um hacker invadiu uma câmera da marca “Ring” instalada no quarto de três
meninas em DeSoto County, Mississippi, nos Estados Unidos, e conseguiu falar
através dos alto-falantes do aparelho com uma das crianças. Veja a que risco
estamos expostos.
A empresa de segurança cibernética Avast relatou
que, em 2022, mais de 1.5 milhões de câmeras de segurança ligadas à internet estão
comprometidas e alto risco de vulnerabilidade em todo o mundo. A pesquisa da
McAfee indicou que 66% dos proprietários de câmeras de segurança não mudaram as
senhas padrão de suas câmeras, tornando-as vulneráveis a ataques e invasões.
Riscos de Invasão de Dados
Além dos riscos à privacidade física, a invasão de dados também é uma ameaça real. Quando dispositivos móveis e câmeras de segurança estão conectados à internet, as informações podem ser interceptadas, violando a privacidade de maneira ainda mais insidiosa.
Um estudo da Universidade de Stanford mostrou que
mais de 90% dos aplicativos de smartphone rastreiam os hábitos de navegação do
usuário e coletam constantemente dados pessoais. Em 2022, a Agência de
Segurança Cibernética e Infraestrutura dos Estados Unidos (CISA) emitiu alertas
sobre a crescente ameaça de ataques de ransomware em dispositivos IoT,
incluindo câmeras de segurança.
A Ameaça invisível: invasões por aplicativos maliciosos e a era das inteligências artificiais
A crescente interconectividade entre dispositivos e
a proliferação de aplicativos móveis transformaram nossos smartphones em
verdadeiros centros de controle de nossas vidas. No entanto, à medida que
abraçamos a comodidade e o poder desses dispositivos, também estamos nos expondo
a ameaças cada vez mais sofisticadas, sorrateiras e imperceptíveis que podem
invadir nossos celulares, ouvir nossas conversas dentro de casa e ativar nossas
câmeras para gravar vídeos e áudios. E com o avanço tecnológico, novas ameaças
emergem com as Inteligências Artificiais (IAs).
O silencioso invasor: aplicativos maliciosos
Aplicativos maliciosos disfarçados como ferramentas úteis são uma das ameaças mais insidiosas à segurança de nossos dispositivos móveis. Esses aplicativos podem acessar nossa câmera, microfone e outros recursos críticos sem nosso consentimento, muitas vezes permanecendo invisíveis aos olhos do usuário e mesmo que a tela do seu celular esteja apagada, as funções de captura de áudio, foto ou vídeo podem ser ativadas de forma remota e a distância pela internet, permitindo a gravação de vídeos e áudios íntimos e sensíveis.
De acordo com um relatório de segurança da McAfee,
o número de aplicativos maliciosos cresceu exponencialmente, com mais de 50.000
aplicativos suspeitos identificados só em 2022. A empresa de segurança digital
Norton relatou que 62% dos ataques cibernéticos em dispositivos móveis
envolviam aplicativos maliciosos.
Escutas invisíveis e gravações intrusivas
O National Cyber Security Centre do Reino Unido
emitiu um alerta sobre aplicativos que ativam microfones e câmeras para
espionar vítimas, citando um aumento significativo de tais ameaças. Um estudo
da empresa de cibersegurança Checkmarx revelou que aplicativos de câmera
populares continham vulnerabilidades que permitiam a ativação não autorizada da
câmera do dispositivo.
A Ascensão das Inteligências Artificiais
Com o avanço das Inteligências Artificiais, os
riscos de invasões de privacidade se tornaram ainda mais preocupantes. IAs
podem ser treinadas para identificar padrões de fala e atividade que sugerem
informações valiosas para invasores. Há sites com IAs que clonam a fala humana,
bastando para isso que você use vídeos disponibilizados nas redes sociais. Você
pode imaginar como isso vai alimentar golpes via WhatsApp? E infelizmente isso
já está acontecendo!
Um estudo da Universidade de Stanford demonstrou
que as IAs poderiam, com alta precisão, inferir informações pessoais, como
números de telefone e endereços, a partir de gravações de áudio. A empresa de
segurança Symantec alertou sobre a crescente sofisticação das IAs usadas em
ataques de phishing, que se tornaram capazes de imitar vozes humanas com
precisão surpreendente.
O que podemos fazer para tentar proteger a nossa privacidade
Embora os riscos sejam reais, há medidas que
podemos tomar para dificultar as invasões e proteger nossa privacidade:
1-Atualizações de software: Mantenha seus dispositivos móveis e câmeras de segurança sempre atualizados com as versões mais recentes do software, que frequentemente incluem correções de segurança.
2-Senhas fortes: Altere as senhas padrão de fábrica em suas câmeras de segurança e outros dispositivos, substituindo-as por senhas mais fortes e exclusivas.
3-Permissões de aplicativos: Revise as permissões concedidas a aplicativos em seu smartphone e restrinja o acesso a dados sensíveis, como câmera e microfone.
4-Segurança da rede Wi-Fi: Mantenha uma rede Wi-Fi segura com senhas fortes e use criptografia WPA3 sempre que possível.
5-Firewall e antivírus: Utilize um firewall e software antivírus confiável em seus dispositivos.
6-Atenção a atividades suspeitas: Esteja atento a atividades não autorizadas, como gravações de áudio e vídeo sem sua iniciativa, e denuncie imediatamente qualquer suspeita de invasão.
Em um mundo cada vez mais conectado, a proteção da
privacidade se torna um desafio crucial. Ao tomar medidas proativas para
salvaguardar nossos dispositivos e informações, podemos reduzir
significativamente os riscos associados à vulnerabilidade de nossos smartphones
e aparelhos inteligentes. O conhecimento ainda é a melhor forma de evitar
problemas maiores ligados às ameaças cibernéticas para manter mais segurança
com a nossa privacidade e dados.
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