Nos últimos anos, o Estado do Amapá tem enfrentado um fenômeno preocupante: uma emigração em massa de sua população em direção às regiões do Centro-Sul do Brasil. Não temos ainda dados oficiais sobre o número exato, mas em quase todas as famílias do Amapá há pessoas que foram embora. O Amapá está passando por uma das piores (senão a pior) onda emigratória de sua história. Pelo visto não há interesse das autoridades locais em divulgar esses dados, pois são dados vergonhosos.
Mas é certo que esse êxodo populacional é impulsionado por uma combinação deletéria de fatores socioeconômicos e mazelas políticas, que geram um impacto significativo tanto na economia local, quanto nas famílias que se separam. O decadente cenário é favorável a isso: maior taxa de desempregados do país 2021 com maior taxa de desemprego do país; são 73 mil sem trabalho. O Amapá tem 17,5% da população acima de 14 anos sem emprego e é um dos poucos Estados onde o número de beneficiários de alguma renda social é maior que o número de empregados com carteira assinada. No Amapá existem atualmente cerca de 127 mil beneficiários do Bolsa Família e cerca de 76 mil trabalhadores com carteira assinada. Outros 19 mil desistiram de procurar trabalho e são considerados desalentados, além disso há um grande número de fechamentos de lojas, grande quantidade de ações judiciais envolvendo corrupção no setor público, altos índices de violência, sistema de saúde falido, educação sucateada, pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil, além dos piores índices na sua economia que está quase destruída e se baseia principalmente nos repasses federais e emendas parlamentares, visto que o setor primário e secundário são extremamente pequenos.
Um dos principais motivos que levam os amapaenses a buscar novas oportunidades em outras regiões é a falta de segurança, seguido da falta de perspectivas econômicas. Só para se ter ideia da gravidade com a questão da segurança pública no Amapá, os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública entre 2020 e 2021 são estarrecedores, a Capital do Amapá aparece em 1º lugar no ranking nacional da taxa de mortes violentas por 100 mil habitantes, com uma taxa de 63,2 enquanto o Rio de Janeiro aparece com 19,2 e São Paulo aparece em último lugar com 7,7.
O Estado do Amapá enfrenta desafios persistentes, como altos índices de desemprego e uma economia fragilizada. A falta de investimentos e diversificação econômica contribui para a escassez de postos de trabalho, o que leva muitos a buscarem melhores condições de vida em locais onde há mais oportunidades de emprego e crescimento profissional. A má qualidade da educação pública no Estado dificulta o acesso a uma formação de qualidade, prejudicando as perspectivas futuras dos jovens que são a maior parte dos que emigram. A carência de infraestrutura na área da saúde também afeta a população, que busca com essa mudança uma assistência médica melhor em outras regiões com serviços mais eficientes. A sensação de insegurança é outra questão enfrentada pelos amapaenses, contribuindo para a forte emigração em busca de locais com menores índices de criminalidade. No Amapá o crescimento do tráfico e das facções encontra solo fértil em meio a um mar de desemprego.
A emigração em massa tem um impacto direto na economia local do Amapá. Com a saída de mão de obra qualificada e empreendedores, o Estado perde oportunidades de aproveitamento dessa mão de obra para o seu desenvolvimento e crescimento. Além disso, a redução da população economicamente ativa afeta negativamente a arrecadação de impostos, a sustentabilidade dos serviços públicos e a dinâmica do mercado interno. Essa perda de recursos humanos e econômicos acaba aprofundando ainda mais as dificuldades enfrentadas pelo Estado e gerando um efeito negativo do ponto vista econômico.
A estrutura das famílias também é afetada pela emigração, visto que muitas vezes são separadas devido à necessidade de buscar melhores condições de vida em outro lugar. A migração pode levar à desestruturação familiar, com a separação de casais, pais deixando seus filhos, esposas e laços familiares sendo rompidos. Os que ficam são os que mais sofrem. Essa situação causa impacto emocional, psicológico e financeiro nas famílias agravando ainda mais a miséria no Amapá, além de desafios financeiros decorrentes da distância e do suporte familiar reduzido.
Além dos problemas socioeconômicos, a emigração em massa do Amapá também é reflexo de mazelas políticas que afetam diretamente a qualidade de vida dos cidadãos. A falta de investimentos adequados em áreas essenciais, na educação, arte, cultura, lazer, aliada a falta de projetos sociais eficientes e a má gestão governamental, contribuem para o sentimento de insatisfação da população e para a busca de condições melhores em outros Estados no Centro-Sul do país.
A emigração em massa do Amapá para o Sul é um fenômeno preocupante que reflete as dificuldades enfrentadas pelos cidadãos amapaenses em busca de melhores condições de vida. A grande verdade é que o amapaense está perdendo o brilho nos olhos, a esperança de dias melhores, a fé no amanhã produtivo e próspero no seu Estado. Esse movimento parte nosso coração ao revelar um dado: o amapaense está desistindo do Amapá. Vão as pessoas de bem e trabalhadoras, ficam as mazelas que criaram e mantém esse cenário caótico, um verdadeiro ciclo de retroalimentação politiqueira viciada que emperram as engrenagens do desenvolvimento local.
A situação se torna ainda mais grave em muitos lugares mais pobres do interior do Amapá, onde a absoluta falta de assistência do poder público em todos os níveis, está provocando cenas de desespero, de absoluto abandono, inércia e indiferença à dor daquele povo, por exemplo como a falta de luz, saúde e segurança. A falta de perspectivas econômicas está deixando o Amapá de joelhos. A ignorância e miséria são ingredientes que mantem esse quadro inerte, entra ano e sai ano, entra mandato e mandato, e nada muda. Talvez isso nos ajude a entender um pouco do que move tanta gente a ir embora daqui. Eu sou um filho desta terra, tão mal administrada, mas creio no raiar de dias melhores, mas tudo passa pela educação e conscientização desse povo guerreiro e trabalhador, que há muito espera pelo sonho de um Amapá próspero que nunca chega.
Gesiel de Souza Oliveira, tem 45 anos, é macapaense, Oficial de Justiça, Bacharel em Direito e Geografia pela UNIFAP e em Teologia pela FATECH, Professor de Direito Pós-graduado em Direito Constitucional e Docência em ensino superior, é também pastor evangélico. É fundador e presidente nacional de um movimento social cristão chamado de APEBE - Aliança Pró-Evangélicos do Brasil e Exterior que hoje está presente em dezenas de municípios, 16 Estados brasileiros e 9 países.
Fontes:
1) https://g1.globo.com/educacao/noticia/apos-dez-anos-do-indice-de-qualidade-da-educacao-39-das-escolas-do-5-ano-seguem-distantes-da-meta-nacional.ghtml
2) https://selesnafes.com/2021/01/afinal-por-que-tem-tanto-amapaense-indo-para-o-sul/
3) http://drgesiel.blogspot.com/2021/07/o-amapa-esta-exportando-amapaenses.html
4) https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/ap.html
5) https://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/2022/02/25/amapa-fecha-2021-com-maior-taxa-de-desempregados-do-pais-sao-73-mil-sem-trabalho.ghtml
6) https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/06/28/macapa-tem-maior-taxa-de-mortes-violentas-e-sao-paulo-a-menor-veja-ranking-das-capitais-segundo-anuario.ghtml
7) https://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/2021/07/21/ap-e-o-estado-com-mais-operacoes-da-pf-contra-fraudes-em-recursos-de-combate-a-covid-19.ghtml
8) https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ap/panorama
9) https://sdbnews.com.br/amapa-tem-mais-gente-no-bolsa-familia-que-na-carteira-assinada/
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