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Fusca velho: Nosso primeiro carro - Artigo 2 de 3 - Por Gesiel Oliveira.


Após a chegada do nosso “novo carro” e da empolgação inicial, começaram os problemas. No outro dia acordei ainda cedo e em frente a minha casa estava o fuscão velho parado com a tampa do motor traseiro aberto, e três analistas mecânicos "meia-boca" de pés, olhando para o fusca com a mão no queixo. Meu tio, meu pai e meu irmão mais velho. Os três olhando o motor na parte de trás do fusca sem saber o que impedia a ignição. Era apenas um problema de “junta”, gritava de longe um vizinho rindo, e eu não entendia o porquê da risada. 
Mesmo com a carga na bateria ele não funcionava. Alguns dias depois eu estava indo para a aula de Inglês no Fisk, que consegui por causa de uma bolsa. Eu era o mais pobre da turma. Resolvi pegar uma carona no fusca velho até a escola de inglês. Meu irmão mais velho foi dirigindo. Ele passava o dia todo lavando a lata velha só para dar uma voltinha. Quando estava próximo a escola, pedi a ele que parasse um quarteirão antes, que de lá eu iria a pé. Talvez por isso me apelidavam de “burguês” kkk. Pra completar o meu irmão mais velho era (e é) muito zuador, sabendo que a menina que eu gostava, era riquinha e costumava ficar com as amiguinhas na frente da escola de inglês antes de começar a aula, ele então resolveu me deixar só de pirraça bem em frente a escola, contrariando meus gritos de revolta. 

Chegamos debaixo de uma nuvem tóxica de fumaça e aos sustos daquele barulho ininterrupto do motor do fuscão, sempre repetindo as mesmas notas: “PÓ-PÓ-PÓ-PÁÁÁ”. Quem estava dentro da escola correu pra fora pensando que era um tiroteio, ou um curto circuito na rede elétrica, mas era apenas eu chegando na escola, enquanto meu irmão mais velho zuador, se acabava de rir. Naquela época não existia “bullying” kkk. Para meu azar a menina que eu gostava “platonicamente” estava lá na frente da escola. Eu saí do carro, dei uns passos meio fingindo que ela não estava ali, foi quando escutei o barulho atrás de mim: “nhon-nhon-nhon-nhoooooonnn”. Era o motor do fusca que havia parado, morreu bem ali na porta da escola. 

E agora meu irmão me chamava alto para empurrar o fuscão. Pra completar alguns alunos vieram ajudar. Pense numa saia justa para um pré-adolescente tímido ! Meu irmão gritava: “agora vai”, e nada! Mais uma tentativa, e nada. Até que lá pela quarta tentativa, o fuscão tremeu todo, parecia que estava “convulsionando”. Eu até me assustava com o barulho da tremedeira da carroceria com a lataria solta, e “PÓ-PÓ-PÓ-PÁÁÁ”, funcionou! Quando eu achava que tudo já estava resolvido, e eu agora todo suado já ia retornando para a escola de Inglês, de repente um outro barulho estranho vindo de trás, que eu ainda não tinha escutado: “krriiiiiinnnnnnnn”, olhei pra trás e a longarina do lado direito do fusca havia sacado, se soltou de tanta ferrugem e estava arrastando no asfalto. Novo pedido de ajuda. Amarramos a peça com uns fios, numa “engalicada” horrorosa, e lá se foi o fuscão com seus “chiliques”. 

Depois de alguns meses eu aprendi a dirigir. Resolvi então pegar o carro escondido da mão do mecânico que chegava em casa e que disse que havia acabado de consertar os freios. Resolvi, sem autorização do meu pai, dar uma volta no quarteirão. Quase o mecânico não me entregou a chave, mas eu consegui tomar. 

Ao meu lado, no banco do carona, estava minha priminha que entrou no carro sem pedir. Ela na época tinha uns 8 anos. Foi apenas uma volta, e quando eu vinha descendo a ladeira da rua da minha casa, meti o pé no freio e nada! Minha alma se descolou do meu corpo em frações de segundo. De longe o mecânico gritava: “bombeia, bombeia, bombeia o freio”. Eu fiz a direção para dobrar à direita e entrar na garagem, puxei o freio de mão e a maçaneta do freio arrancou inteira na minha mão, pois estava lá só de enfeite. Puxei a direção do carro para a garagem onde estava o mecânico e não dava tempo do mecânico sair da minha frente. Eu consegui ver o desespero nos seus olhos com as mãos erguidas gesticulando rapidamente para parar. Fechei meus olhos e imaginei: “vou virar um assassino agora” e aguentei a pancada: “POW!” na mureta da garagem. Eu ainda fiquei de olhos fechados, talvez esperando que quando os abrisse, o mecânico estaria morto. Quando abri devagar meus olhos, o mecânico estava pendurado na mureta onde eu acabei a frente do fuscão. Ele deu um salto bem alto que salvou sua vida. Olhei para o lado e minha prima estava com uma laranja na testa, mas sorrindo e achando tudo muito legal. 

Ficou um buraco na mureta por um bom tempo. Sempre que eu chegava em casa, mesmo depois de muitos anos e via aquele buraco, me lembrava do dia que virei um assassino kkkk. Lembranças boa! Amanhã, termino essa série sobre o fuscão velho, contando o dia em que meu irmão adotivo fez o fuscão voar por cima de bueiro alagado e o dia em que minha irmãzinha viu uma roda de carro passar ao lado do fusca. Mas é só amanhã kkk.

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