Pra começar, e antes que alguém julgue que sou mais um imigrante que veio pra cá para falar mal do Amapá, quero dizer que sou nascido, criado, formado, casado e aqui serei enterrado. Mas o que tenho visto tem me entristecido dia após dia. O que vou descrever a seguir é o retrato desse minha insatisfação como filho da terra entorpecido pela desesperança. Infelizmente o povo tem o governo que merece. Isso que vivemos no Amapá é fruto dessa histórica política da mentalidade da corrupção arraigada, onde os políticos usam de malversação de recursos públicos durante o mandato inteiro para "juntar" e os eleitores para "sugar" durante a campanha eleitoral, de forma que esse ciclo se fecha para quem pretende entrar.
E mesmo quando alguém consegue transpor esse hermético sistema, tem de entrar no esquema que mantém a política no Amapá. Um sistema de retro-alimentação viciada, incurável e hereditária. Um caminho que algumas famílias já conhecem bem os meandros e que há décadas se revezam no poder. O Amapá precisa ser reinventado, pois emendar o que já nasceu torto nunca vai corrigi-lo. Um povo mantido por uma aberrante relação impulsionada pela miséria e troca de favores. Um Estado que agoniza com um passado manchado, um desarticulado presente e um improvável futuro. Órgãos públicos que viram cabedais para pendurar por 4 ou 8 anos agitadores de bandeiras no lugar de técnicos qualificados. Cargos que viram cegos propaladores de um crescimento que só se vê bem pintado na propaganda institucional, preocupados em simploriamente manter sua função remunerada a todo custo, mesmo que isso signifique o retrocesso. Gente que dia após dia vê o Amapá ser aviltado no cenário nacional. Gente que em junho de 2013 foi para as ruas quebrar tudo em protestos contra a corrupção, e que nas eleições está lá na esquina com uma bandeirola de qualquer cor na mão e R$20 no bolso fazendo campanha para os mesmos personagens da velha política amapaense.
É um ciclo incurável, incapaz de mudar esse triste, insólito e decadente quadro econômico e social do segundo Estado com o menor PIB e um dos mais pobres do Brasil. Lugar com economia ancorada no contracheque público, onde mais de 1000 empreendimentos foram fechados nos últimos 4 anos, milhares de desempregados congestionam o hipertrofiado setor terciário que concentra mais 85% da população de um Estado sem setor primário e secundário. Antro da corrupção, essa besta que tem seus tentáculos sugadores na miséria de um povo sofrido. Lugar onde não temos saúde, segurança, educação e agora nem energia. Lugar onde as grandes hidrelétricas produzem mais de 3 vezes o necessário para o consumo interno, mas temos de permanecer acordados noite adentro no calor e ao som dos mosquitos.
Lugar onde as "pipocadas" dos transformadores queimando me fazem pensar que ainda estamos no São João, mas o pisca-pisca das luzes nas casas me faz imaginar que já estamos é no Natal. Perco até a noção de tempo em um lugar em que as crianças voltam a estudar em abril, onde a única produção é de filhos, e onde ladrão rouba ladrão. Lugar onde os semáforos eletrônicos, por falta de manutenção, funcionam igual a contagem regressiva do relógio do filme o predador. Lugar de infestação de ratos, que estão entronizados nos mais altos postos dos escalões das atividades públicas, onde a corrupção atinge desde quem bate o carimbo no protocolo a quem prolata a sentença na última instância. Lugar do mal feito, superfaturado, locupletado e desviado. Lugar das obras inacabadas e feias. Lugar onde tudo retrocede, onde andamos para trás, onde nada melhora, onde nos sentimos cada dia mais entristecidos. Onde prisão por falcatrua é mérito. Onde o malandro é ovacionado e o honesto ridicularizado.
Empresas que no mundo inteiro são fortes e crescem a todo vapor, como a Coca-cola e a mineradora Zamim, fecharam as portas no Amapá desempregando centenas de amapaenses, dentre tantos outros empreendimento que devido à alta carga tributária e à politica de pagamento antecipado de ICMS, não puderam continuar no Estado. O último hospital construído no Amapá foi feito por Janary Gentil Nunes na década de 50, e de lá pra cá, se fizeram “puxadinhos” e “guaribadas”. A segurança sem orçamento, equipamentos e quadro de pessoal, é uma insegurança decadente. Mas a ânsia, a vontade de ter o timão dessa barca decadente é forte. Em disputa está a "viúva", o “zumbi”, a "teta" ou tantos outros infinitos sinônimos hilários, alcunhas que sintetizam a atual situação que se tornou esse rincão sofrido, que virou ícone da corrupção para o resto do Brasil. Uma mentalidade de corrupção arraigada e intimamente ligada e fomentada pelos que estão à frente por décadas e décadas. Lugar onde a memória não existe, onde o bom senso não vale mais que um “tiket” combustível ou uma cesta básica, onde técnicos são obrigados a virarem cabos eleitorais, onde o orçamento para propaganda é 10 vezes maior que o destinado à segurança pública, na malograda tentativa de escamotear a inoperância de um "marasmo" administrativo que atravessa governo após governo.
Dizer que nosso Estado não tem jeito surge até como compreensível para um povo sem força até para sonhar com a mudança. Mas ainda há uma única saída possível, e que está materializada em um papel moeda dentro de sua carteira, chamada de título eleitoral. Exerça seu direito conscientemente. Não troque seu voto por um desejo imediato, para em troca sofrer por mais quatro anos. Esse povo humilde e trabalhador não merece isso. Não é a política que faz o candidato virar ladrão, mas sim o voto inconsequente que faz o ladrão virar político. Compartilhe e demonstre sua indignação com essa sujeirada.
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