Um Estado à mercê da
corrupção e do atraso
O Amapá é um dos estados mais jovens da federação, tendo
sido criado em 1988, após a desmembramento do território federal do mesmo nome.
No entanto, apesar de sua pouca idade, o Estado já acumula um histórico de
escândalos políticos, desvios de recursos públicos, nepotismo, clientelismo,
prisões constantes de políticos corruptos e improbidade administrativa sistêmica,
que comprometem o seu desenvolvimento econômico e social há décadas.
O Estado é governado por oligarquias que se alternam no
poder há décadas, e que utilizam do aparato estatal para se beneficiarem e
garantirem um continuísmo nefasto e destrutivo, em detrimento das urgentes necessidades
coletivas. Os políticos locais se aproveitam da pobreza e da ignorância da
população, que é mantida em um estado de dependência e submissão, através da
distribuição de favores, cargos, empregos temporários, contratos e migalhas, em
troca de votos e apoio.
O resultado dessa “sopa de politicagem nefasta” é um Estado
que ocupa as últimas posições nos indicadores de qualidade de vida, educação,
saúde, segurança, infraestrutura, emprego e renda. Hoje o Amapá tem o segundo
menor Produto Interno Bruto (PIB) do país, sendo superado apenas pelo Piauí, e
o segundo maior índice de pobreza, e em 2022 ocupou a posição de Estado mais
pobre do País. O Estado também apresenta altos índices de violência,
analfabetismo, mortalidade infantil, desnutrição, evasão escolar, entre outros
problemas sociais.
O panorama político do Amapá é um reflexo cristalino de
décadas de práticas nefastas, arraigadas na corrupção e na manipulação dos
recursos públicos em prol de interesses privados. O Estado, infelizmente,
parece fadado a um ciclo vicioso onde a corrupção é cultivada e enraizada,
perpetuando uma mentalidade que se tornou parte intrínseca da política local.
Barão de Mauá disse que: “O melhor programa econômico do
governo é não atrapalhar aqueles que produzem”, mas no Amapá a impressão que
temos é que todas as iniciativas que podem promover o desenvolvimento são logo
estancadas, paralisadas ou abortadas, porque sejamos francos, o sistema que se
implantou no Amapá há décadas jamais vai acabar com a pobreza porque depende da
alienação, miséria e dependência do aumento da pobreza para se manter no poder.
O sistema jamais vai melhorar a educação porque eles precisam de alienados para
manipularem e servirem de marionetes para levantarem suas bandeiras de
continuísmo. O sistema jamais vai acabar com essa quantidade absurda de cargos,
porque precisa pendurar seus apadrinhados e militantes, o sistema jamais vai
acabar com as desigualdades sociais, porque eles precisam de uma sociedade
dividida, enfraquecida e lobotomizada para manterem seus discursos e ideologias
de minorias oprimidas e dependentes do poder estatal. O sistema jamais vai
melhorar a segurança porque eles apoiam políticas de desencarceramento e às
vezes possuem ligações com o crime organizado, como já vimos em várias
operações da polícia federal em diversos governos. O sistema jamais vai
combater a corrupção, por razões óbvias pois sistema, corrupção e pobreza se
retroalimentam em um ciclo contínuo politiqueiro e viciado. O sistema jamais
vai melhorar o Amapá, porque sua política nunca foi o desenvolvimento e sim o
fortalecimento dos grupos e oligarquias locais para continuar no poder. Mudam
as caras, mas não os grupos.
A conta não fecha
Ronald Reagan certa vez disse: “Você não pode fortalecer o
fraco enfraquecendo o forte. Você não pode ajudar o assalariado prejudicando o
pagador de salários. Você não pode ajudar os pobres prejudicando os ricos. Você
não pode ajudar permanentemente alguém fazendo por eles, o que eles mesmos
poderiam, e deveriam, fazer por si mesmos”. Sem valorização e apoio aos
empreendimentos, estímulo a geração de emprego e renda, não há como um Estado
se desenvolver apenas aumentando impostos e taxando empresas que produzem para
tirar o máximo possível de quem trabalha para entregar para políticas
populistas para quem nada produz. Como
um Estado pode avançar se possui mais pessoas recebendo bolsas e benefícios públicos
que com carteira assinada?
Piores indicadores
sociais do país
O decadente cenário é favorável a isso: maior taxa de
desempregados do país 2021 com maior taxa de desemprego do país; são 73 mil sem
trabalho. O Amapá tem 17,5% da população acima de 14 anos sem emprego e é um
dos poucos Estados onde o número de beneficiários de alguma renda social é
maior que o número de empregados com carteira assinada. No Amapá existem
atualmente cerca de 127 mil beneficiários do Bolsa Família e cerca de 76 mil
trabalhadores com carteira assinada. Outros 19 mil desistiram de procurar
trabalho e são considerados desalentados, além disso há um grande número de
fechamentos de lojas, grande quantidade de ações judiciais envolvendo corrupção
no setor público, altos índices de violência, sistema de saúde falido, educação
sucateada, pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil, além dos
piores índices na sua economia que está quase destruída e se baseia
principalmente nos repasses federais e emendas parlamentares, visto que o setor
primário e secundário são extremamente pequenos.
As causas da
emigração em massa para o sul do país
Um dos principais motivos que levam os amapaenses a buscar
novas oportunidades em outras regiões é a falta de segurança, seguido da falta
de perspectivas econômicas. Só para se ter ideia da gravidade com a questão da
segurança pública no Amapá, os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública
entre 2020 e 2021 são estarrecedores, a Capital do Amapá aparece em 1º lugar no
ranking nacional da taxa de mortes violentas por 100 mil habitantes, com uma
taxa de 63,2 enquanto o Rio de Janeiro aparece com 19,2 e São Paulo aparece em
último lugar com 7,7.
O Estado do Amapá enfrenta desafios persistentes, como altos
índices de desemprego e uma economia fragilizada. A falta de investimentos e
diversificação econômica contribui para a escassez de postos de trabalho, o que
leva muitos a buscarem melhores condições de vida em locais onde há mais
oportunidades de emprego e crescimento profissional, geralmente nos Estados do
sul do Brasil. A má qualidade da educação pública no Estado dificulta o acesso
a uma formação de qualidade, prejudicando as perspectivas futuras dos jovens
que são a maior parte dos que emigram. A carência de infraestrutura na área da
saúde também afeta a população, que busca com essa mudança uma assistência
médica melhor em outras regiões com serviços mais eficientes. A sensação de
insegurança é outra questão enfrentada pelos amapaenses, contribuindo para a
forte emigração em busca de locais com menores índices de criminalidade. No
Amapá o crescimento do tráfico e das facções encontra solo fértil em meio a um
mar de desemprego e miséria.
A emigração em massa tem um impacto direto na economia local
do Amapá. Com a saída de mão de obra qualificada e empreendedores, o Estado
perde oportunidades de aproveitamento dessa mão de obra para o seu próprio desenvolvimento
e crescimento. Além disso, a redução da população economicamente ativa afeta
negativamente a arrecadação de impostos, a sustentabilidade dos serviços
públicos e a dinâmica do mercado interno. Essa perda de recursos humanos e
econômicos acaba aprofundando ainda mais as dificuldades enfrentadas pelo
Estado e gerando um efeito negativo do ponto vista econômico.
Violência e educação:
pilares abandonados
Na esteira desse contexto político decadente, a sociedade
amapaense padece. A violência e a insegurança corroem as estruturas sociais. Os
investimentos em segurança pública minguam, deixando um vácuo que é rapidamente
preenchido pelo caos e pelo avanço incontrolável da criminalidade. A educação,
por sua vez, também se encontra negligenciada. Instituições de ensino carentes
e precárias de recursos e de um plano consistente, não conseguem cumprir seu
papel transformador, edificador e gerador de conhecimento, deixando nossos jovens
à mercê de um futuro incerto.
Dados atuais são alarmantes: a taxa de criminalidade cresce
exponencialmente, refletindo não apenas a falta de investimento em segurança,
mas também a ausência de políticas públicas eficazes. A precariedade na
educação se traduz em elevados índices de evasão escolar e baixo desempenho escolar
e acadêmico, comprometendo o desenvolvimento social e econômico do Estado.
Políticos e a má gestão:
um ciclo perverso de continuísmo
A cultura da malversação de recursos públicos, praticada por
muitos políticos durante seus mandatos, cria um círculo vicioso que se
retroalimenta. Esses recursos desviados são utilizados como moeda de troca
durante campanhas eleitorais, perpetuando um sistema onde os eleitores são
cooptados por migalhas enquanto os políticos acumulam poder e influência. A
politicagem no Amapá não se restringe apenas aos períodos eleitorais. Há uma
estrutura hereditária de poder. Isso resulta em uma estagnação, onde o
interesse público é subjugado em prol de interesses privados.
Impactos econômicos e
sociais
Os impactos econômicos são evidentes. O Amapá, um Estado com
um dos menores PIB’s do país, sofre com o fechamento de empresas e a falta de
investimentos que poderiam impulsionar o desenvolvimento. Empreendimentos
renomados, como a Coca-Cola, as poucas indústrias que tentaram se implantar e
mineradoras, fecham suas portas no Estado, deixando um rastro de desemprego,
incerteza e desesperança.
Além disso a concessionária responsável pelo fornecimento de
energia elétrica promoveu sucessivos reajuste elevando a tarifa de energia de
forma desproporcional à pobreza do povo amapaense e endividando continuamente a
população, criando uma bola de neve de dívidas e desesperança. A situação nos
serviços essenciais é calamitosa. A população, privada de serviços básicos como
educação, saúde e segurança, sofre diariamente as consequências dessas mazelas
persistentes.
No Amapá há um ciclo de retroalimentação carcomido que
mantém esse estado de falência inerte que se alimenta da corrupção sistêmica,
que vai do pico da pirâmide até o paupérrimo faminto que recebe a cesta básica
no fim da ponte às vésperas da eleição. O sistema é um monstro que aparelhou
tudo, que ninguém quer enfrentar, mas que se alguém não o enfrentar, jamais
teremos um Estado desenvolvido.
A esperança na escolha
consciente
O Amapá tem um potencial econômico enorme, devido à sua riqueza
natural, sua localização estratégica, sua diversidade cultural e sua vocação
turística inata, terras agricultáveis e potencial para exploração de petróleo
na sua costa. No entanto, esse potencial é desperdiçado pela falta de
planejamento, gestão, investimento e fiscalização. O Estado é dependente do
setor público, que emprega mais de 60% da população economicamente ativa, e que
consome mais de 70% da receita estadual. O setor privado é incipiente, frágil e
desestimulado, sofrendo com a alta carga tributária, a burocracia, a falta de
crédito, a infraestrutura precária e a concorrência desleal. O Estado tem pouca
diversificação produtiva, sendo baseado principalmente na extração de madeira,
na pesca e na agricultura familiar. O setor industrial é quase inexistente, e o
setor de serviços é limitado e informal.
O Estado precisa de uma nova esperança, que faça com que os
amapaenses voltem a acreditar em seu potencial, em sua capacidade, em sua
dignidade, em seu futuro. O Amapá precisa de alguém que mude essa rota de caos
inevitável. O Estado precisa de uma nova atitude, que faça com que os
amapaenses se unam, se mobilizem, se organizem, se manifestem, sonhem e se
transformem. O estado precisa de uma nova história, que faça nossos jovens
retornarem do sul à sua terra com esperança renovada, que faça com que os
amapaenses voltem a se orgulhar de sua terra, de sua gente, de sua identidade,
de sua trajetória.
O Amapá é um estado que merece mais, que pode mais, que quer
mais e tem tudo para mudar essa realidade, mas esse caminho não é fácil. O
Amapá é um estado que precisa de uma revolução cognitiva, precisa voltar a
enxergar e sonhar. Uma revolução pacífica, democrática, cidadã. Uma revolução
que começa nas urnas, mas que não termina nelas. Uma revolução que depende de
cada um de nós. Uma revolução que é possível, que é necessária, que é urgente.
Uma revolução que deve começar agora.
Olá Prof. Gesiel Oliveira!
ResponderExcluirParabéns pelo artigo onde fez uma análise de vários cenários do estado do Amapá.
O que constatamos que tem tudo haver com SOCIAL, e a política através dos nossos governantes ao longo de todos esses não conseguem mudar essa realidade e muito menos apontar uma nova direção direção. Não existe um indicador seja econômico ou social que nos apontem nesse sentido.
Veja o PIB do estado do Amapá em 2021, foi de R$ 20,1 bilhões, enquanto que em 2020 foi de
R$ 18.5 bilhões, sua participação na economia nacional foi 0,2%, mantendo a mesma
tendência dos últimos 05 anos. Esse é o principal indicador, pois estamos falando de tudo o que produzimos.
Quando analisamos as atividades medidas pelo PIB que são AGROPECUÁRIA, INDÚSTRIA e SERVÇOS podemos constatar que Administração Pública que faz parte dos serviços representa 46,4% do PIB de 2021. A participação da Administração Pública no PIB do Amapá mantém essa média de 46% nos últimos cinco anos. Enquanto a AGROPECUÁRIA sofreu recuo, Administração Pública não gera riqueza e sim bem social. É o que falta muito por aqui como; os piores indicadores dos anos finais do ensino médio ocupando o 27º lugar entre as UF's, saneamento básico, mortalidade infantil, taxa elevada de desocupação e por aí afora...
O Amapá, vem ocupando o 25º, 26º e o 27º em quase todos os indicadores que são divulgados.
Esses temas por você aqui elencados bem que poderiam se traduzir em grandes debates, com
estudiosos, pesquisadores, sociedade civil. Deixando um pouco de lado a caixinha ouvindo também quem pode contribuir.
Um jovem que nasceu aqui no Amapá e que hoje está com 30 anos e nunca saiu daqui, não sabe o que é o Controle de Qualidade de uma indústria. Se nossa indústria é insipiente e a agropecuária apresenta recuo em 2021. Não vai ser através da Administração Pública que o Amapá vai enriquecer.
Mais uma vez parabéns pelas suas análises.
Abs, Adrimauro Gemaque