A mortandade de peixes no Rio Araguari e as possíveis causa ( Por Gesiel de Souza Oliveira, Geógrafo, escritor e especialista em Geografia do Amapá).
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Mortandade de peixes próximo à Hidrelétrica em Ferreira Gomes |
O Rio Araguari é o maior rio
genuinamente amapaense, pois tem sua nascente na Serra Lombarda, norte
do Estado, e atravessa vários Municípios, como as cidades de Porto
Grande (cujos primeiros habitantes chegaram por ele), Ferreira
Gomes e Cutias do Araguari. É um rio historicamente vinculado à
origem daquele povo. O Araguari deságua no oceano Atlântico, na fronteira
entre os municípios de Amapá e Cutias do Araguari, e formava até
pouco tempo ondas gigantescas que davam
origem a pororoca pelo encontro das águas doces do Araguari com as águas
salgadas do Oceano Atlântico, ativadas pela força gravitacional da lua sobre a
Terra e pela consequente variação das força da maré. Pois bem, eu não quero
falar sobre a vazão do Araguari, nem sobre os impactos provocados pela
bubalinocultura ou pelo assoreamento. A situação é cada vez mais complexa. Os
efeitos da antropização agora atingem a ictiofauna (fauna aquática). E esse
recente problema ambiental atinge o Amapá de um forma avassaladora. O
aparecimento de peixes mortos no leito do Rio Araguari vem preocupando
pescadores, moradores do município de
Ferreira Gomes, distante 137 quilômetros de Macapá. Desde o início de agosto
deste ano os peixes aparecem mortos, boiando no rio, em um trecho próximo a
construção de uma hidrelétrica, o que nos ajuda a dar uma dica sobre as reais
motivações, apesar de não podermos ainda atribuir a culpa exclusivamente a nenhum
causador, pois os laudos definitivos ainda não foram concluídos. A mortandade
já foi alvo de protestos contra a empresa executora da obra e alvo de
investigação por parte do Instituto de Meio Ambiente e Ordenamento Territorial
(Imap).
Moradores relatam que a cada vez que isso acontece, os peixes
aparecem mortos em quantidades maiores. O mau cheiro e a presença de urubus são
constantes na orla da cidade nesse período. Há uma preocupação generalizada
quanto ao consumo de peixes provenientes do Rio Araguari, e isso tem impactado
profundamente a pesca artesanal nessa região. Os pescadores são os mais
atingidos diretamente, e os efeitos secundários atingem a economia municipal local
e tem provocado muitos questionamentos e preocupações por parte dos munícipes
da região atingida.
A empresa Ferreira Gomes Energia,
responsável pela construção da hidrelétrica, tem sistematicamente alegado que o
problema nada tem a ver com a construção da barragem. Sabe-se que a construção
de hidrelétricas afeta o ciclo de reprodução natural de muitas espécies de
peixes, pois na piracema as espécies costumam subir rio acima para a desova e
reprodução. A construção da barragem atrapalha esse processo natural. A usina
tem recomendação legal para não acionar as turbina acima do limite permitido,
especialmente durante o período de reprodução dos peixes, no qual cardumes
gigantescos sobem o rio para se reproduzirem.
Se isso ocorre, é comum termos o que chamamos tecnicamente de “barotruma”.
O rápido crescimento populacional humano que estamos vivendo na atualidade traz
consigo um enorme apetite por recursos para se sustentar. A produção energética
é um desses desafios ao crescimento sustentável. A crescente demanda por energia tem gerado grandes investimentos no setor
hidrelétrico. As usinas hidrelétricas podem causar diversos impactos ao meio ambiente, desde aumento do volume dágua antes da
barragem, até o rebaixamento do nível do
rio depois da barragem. Dentre tantos impactos ambientais, um dos mais severos
é a mortandade de peixes pela passagem pelas turbinas. As variações de pressão a que esses peixes se
submetem ao passar por uma turbina, podem gerar barotraumas (como exoftalmia
(olhos saltados- condição caracterizada por uma protuberância para fora da
órbita do olho, é geralmente causada pela submissão à altas cargas de pressão
ou variação de condições da temperatura na água; eversão (destruição) do
estômago e intestino, embolia, etc.). É comum a embolia em peixes provocados
pelo turbilhonamento da água despejada pelas hidrelétricas. A embolia
acontece quando o sistema sanguíneo e pulmonar ficam obstruídos por coágulos
decorrentes de bolhas de ar excessivas no ambiente aquáticos, provocando um
processo de asfixia irreversível e fatal. Há uma baixa quantidade de informação
sobre o assunto, principalmente quando se trata do conhecimento relativo à
espécies e usinas hidrelétricas na Amazônia, onde os impactos podem ser ainda mais
devastadores. Em muitos casos quando há
o acionamento das turbinas e o descumprimento da orientação ambiental, provocam
a morte de peixes em grande quantidade, e normalmente isso acontece próximo a
barragem. Recentemente o problema voltou
a acontecer no Rio Araguari, com o aparecimentos
de peixes mortos no local próximo a obra da barragem, a empresa alegou que
constantes exames foram feitos e descartam a hipóteses de contaminação da água.
Um laudo preliminar emitido recentemente
pelo Imap (em meados de agosto) também não detectou a contaminação, mas segundo
o diretor técnico do instituto, o parecer é inconclusivo pelo fato de
o Araguari apresentar grande poder de diluição de água. Pescadores dizem
estarem assustados com a situação. A obra possui Licença de Operação (LO) desde
o dia 17 de julho e tem previsão de entrar em funcionamento em janeiro de 2015.
Os pescadores desconfiam que produtos químicos tenham sido jogados pela
hidrelétrica no leito do rio mas nada foi confirmado até o presente momento. Há
também relatos de funcionários da empresa que informaram que foi feita uma
limpeza (dentro da hidrelétrica) em agosto com sabão em pó, solução de bateria
e outros produtos, o que poderia ter provocado esse efeito próximo à barragem. Segundo
os moradores das proximidades, as espécies de peixes mais atingidas foram:
acari, filhote e tucunaré.
Outra causa provável seria o
rebaixamento do nível do rio, em decorrência da construção da barragem, o que
teria provocado uma variação da temperatura da água do rio, suficiente para
provocar a mortandade de muitas espécies aquáticas. Barotrauma, contaminação
com substâncias químicas, variação térmica provocada pelo rebaixamento do nível
do rio em decorrência da construção da barragem ou causa naturais? Há diversas
teses, mas o mistério acerca da mortandade dos peixes continua. Os laudos
definitivos ajudarão a compreender a motivação desse fenômeno. O que se deduz
diante das evidências que se dispõem, é que isso teria causa ligada à
antropização (ação e interferência do homem sobre o meio) e não decorrente de
causas naturais. E que isso seria um conjunto de elementos e não apenas decorrente
de uma causa.
Gesiel
de Souza Oliveira
Blog: drgesiel.blogspot.com
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