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A minha jornada – Por Gesiel Oliveira

Hoje no dia da minha terceira formatura no curso de Teologia, estava lembrando do meu caminho e das dificuldades enfrentadas ao longo dessas minha vida. Sou o segundo filho de dez outros, filho de um fotógrafo e pastor chamado de Nery Ferreira de Oliveira (de saudosa lembrança – falecido em 03.12.2012) e uma dona de casa chamada de Osvaldina de Souza Oliveira. Guardo em minhas lembranças infantis uma vida dura e difícil vivida em uma pequena casa de madeira coberta de palha lá no bairro do Laguinho. Quando eu tinha 8 anos de idade, eu e meu irmão mais velho íamos para a frente dos Correios vender selos, cartas, pôsteres e outras bugigangas para ajudar na renda da família. Nessa época meu pai conseguiu um contrato nos Correios. Meu pai e minha mãe não concluíram os estudos, mas sempre nos incentivaram a estudar. Estudei toda minha vida em escolas públicas, concluí meu ensino médio e fui enfrentar o vestibular na Universidade Federal do Amapá. E na primeira tentativa, que decepção! Eu não tinha noção do quanto era difícil e concorrido passar naquele processo seletivo. Chorei com aquela derrota. Mas ali encontrei forças para sonhar e ter esperança e determinação para prosseguir buscando. Como não tinha dinheiro para pagar uma faculdade particular, resolvi estudar sozinho, indo todo dia para a biblioteca pública no centro de Macapá, andando a pé, porque sequer tinha dinheiro para pagar o ônibus, e tirando xerox de livros e apostilas. No final do ano de 1996 tentei novamente o vestibular na UNIFAP e passei na 37º colocação no curso de Geografia que ofertou 50 vagas. Minha vida começava a mudar a partir dali. Não no sentido financeiro, mas em termos de conhecimento e esperança em um futuro melhor. Na mesma época comecei a trabalhar. E foi nesse tempo que conheci uma menina muito linda chamada de Berenice Rabelo. Em 1999 noivamos e sem seguida casamos no dia 25.09 daquele ano. Eu tinha apenas 21 anos e ela 18. Era uma loucura da nossa parte fazer aqui, mas eu estava apaixonado. Minha mudança da casa da minha mãe para a casa da minha sogra onde fui morar nos primeiros meses, coube toda dentro de uma sacolinha branca daquelas de supermercado. Não tinha nada no bolso, só amor e esperança no coração. O ano de 99 me trouxe também a aprovação no curso de Direito e minha esposa passou no curso de enfermagem, ambos na Universidade Federal do Amapá. A minha jornada começava no trabalho ainda cedo da manhã; na tarde o curso de geografia e à noite no curso de direito. Lembro que certa vez, no caminho que levava da parada do ônibus, por uma passarela, até o bloco onde funcionava o curso, percorria uma distância de cerca de 800 metros. Certa tarde, cansado, sem almoçar, pois muitas vezes não dava tempo, resolvi segurar a fome até a hora do intervalo às 16:00h, quando repentinamente, senti uma fraqueza estrutural, a ponto de não sentir forças para me manter de pé. Meus joelhos ficaram “frouxos”, uma sensação de profunda debilidade orgânica, como se meu corpo pesasse 1 tonelada. Cai, mas caí num tombo cinematográfico a ponto de sujar toda minha surrada roupa. Ainda lembro dos meus livros grossos de Direito sendo arremessados ao ar, o vade mecum foi parar a uma distância de quase 5 metros, meus cadernos com espirais feitos da cópias e xerox partiram, canetas quebradas, camisa rasgada e suja, e ainda lembro da voz daquele estudante que vinha caminhando com outros atrás de mim a dizer: “calma ele deve ser epilético”. Não sabia ele, que este tombo tinha um motivo: a fome. A queda foi tão feia, que fiquei com a cara na grama por alguns instantes antes de levantar. Naquele momento o inimigo falava aos meus ouvidos: “pára!, você não vai conseguir! esta é a melhor posição que gosto de ver os homens, caído!”. Minha vida estava estagnada neste período. Parecia que as coisas estavam desandando. Cheguei a pensar em parar, mas minha sogra me deu uma palavra de ânimo. Disse que se Deus tinha permitido que chegasse até ali, eu não poderia recuar. Lembro que ela tinha uma frase que muito marcou minha vida: “quem tem vontade, já tem metade”. Entre os anos de 2001 a 2002 esperei, orei, busquei ao Senhor e nada. Fiz dezenas de concursos e não passava em nenhum. O silêncio de Deus começava a me preocupar. A oportunidade da casa própria veio quando uma vizinha se separou de seu marido e resolver vender um terreno com uma “bandola” velha. A [única coisa que eu tinha era uma moto usada. Resolvi fazer a proposta de entregar minha moto e mais uma pequena parte em dinheiro. Achava improvável ela aceitar, mas contrariando tudo, aquela senhora aceitou de imediato. Foi uma alegria. Me lembro quando eu sai do aluguel e fui para debaixo daquela pequena casinha bem velha. Abri a porta e nem piso tinha. Mas era minha, era tudo que eu tinha. Meus olhos brilharam. A alegria encheu meu coração. Nessa época eu conciliava duas faculdades e ministrava aulas em escolas particulares. Passava o dia todo fora de casa. Recebia R$6,00 por hora/aula. Certa vez, após chegar cansado, no fim da noite, minha esposa já grávida, a chuva lá fora, as muitas goteiras de um telhado todo remendado de pedaços de telhas, o cubículo apertado, a roupa e o sapato ensopado da chuva, o barulho da chuva no telhado, a incerteza começava a apertar e a ansiedade era tamanha. Não desejava que meu filho crescesse em meio àquela condição. Deitei e sonhei. Tive um lindo sonho, onde Deus falava comigo. Dizia: “por que você é tão impaciente. Não sabes tu, que eu tudo tenho planejado. Ainda não chegou o momento. Espere somente”. Acordei e me defrontei novamente com a dura realidade que me fez lembrar que aquilo era somente um sonho. Mas era um sonho de despertamento para ir em busca do que desejava. Em 2003 conclui o curso de geografia, mas continuava desempregado. Chegou o fim do ano de 2003, fogos, promessas e a espera de uma promessa. O ano de 2004 começou, mas em janeiro daquele ano as inscrições para o concurso do Tribunal de Justiça do Amapá estavam abertas. Mas como eram poucas vagas, confesso que não estava acreditando muito que aquela ideia prosperaria. Eu já havia tentado tantos outros concursos. Eu já estava começando a ficar cansado e sem muita esperança. Fiz o cadastro pela internet, imprimi o boleto, mas não tinha dinheiro para pagar a taxa de inscrição e estava com pouca esperança de passar num concurso tão concorrido como este, onde a maior parte dos concorrentes vêm de fora do Estado. O prazo para encerramento das inscrições acabava dia 16/01/2004. Lembro-me que estava retornando para minha casa, montado na traseira de um “mototáxi”, debaixo de uma forte chuva, todo molhado, minha costa toda respingada de lama em minha camisa molhada, passei em frente à casa lotérica onde estavam sendo feitos os pagamentos das inscrições, e aquele era último dia. Olhei no meu relógio e faltavam 5 minutos para as 18:00h, e para o encerramento do prazo. Meus olhos brilharam, mas a incredulidade não me permitiu parar. Fiquei somente na vontade, segui em frente, pois tinha no bolso somente R$ 70,00, o que me sobrou de meu pequeno salário. Ficava para trás o meu sonho. No retrovisor daquela moto meu sonho ia se afastando aos poucos em meio aquela tempestade. Foi então que uma FORÇA ME TOCOU, uma voz falou em meus ouvidos dizendo: “Volta!”, era a voz de Jesus! Aleluia!. Eu não compreendia, mas impulsionado por aquela força, bati nas costas daquele mototaxista. Pedi para que desse o contorno no quarteirão e voltasse. Desci e ele me cobrou R$ 10,00, restava somente R$ 60,00, exatamente o valor da inscrição. Entrei e imediatamente o funcionário baixou as portas daquela lotérica. Fui o último a ser atendido. Minha inscrição foi a última. Quando efetuei o pagamento o relógio marcava 17:59h. Graças a Deus! Cheguei em casa por meio de uma carona do meu irmão. Minha esposa esperava ansiosa minha chegada para fazer uma pequena compra com a pequena quantia de dinheiro que tinha. Qual foi sua surpresa: retornei sem nada. Saí em busca do pouco, retornei sem nada. Lembra um pouco aquela história de Walt Disney: “João e o pé de feijão”, quando João sai para vender a vaquinha e retorna com as mãos vazias, somente com aquelas sementes de feijão, no meu caso, um boleto de inscrição. Pois naquele dia voltei com as mãos vazias, mas com as sementes da esperança depositadas no Senhor. Quando minha esposa perguntou qual o cargo que havia optado, eu respondi: Analista Judiciário - Oficial de Justiça (nível superior em Direito). Ela disse: “você deveria ter feito a inscrição para técnico judiciário (nível médio), pois eram 72 vagas e não para oficial que são somente 8 vagas” (já incluída as 2 vagas para deficiente). Disse-lhe que agora já estava feito e só restava acreditar em Deus e estudar. O concurso estava marcado para o dia 1° de fevereiro de 2004. Prazo curtíssimo. Passei a intensificar os estudos num ritmo frenético. Ainda havia uma outra situação: eu estava ainda cursando o 4° ano do curso de direito e o edital exigia o curso superior completo em Direito. Estava fazendo o concurso acreditando que ficaria numa colocação mais baixa e que depois de alguns anos, quando já estivesse formado, talvez fosse chamado. O dia chegou e agora, ali estava, em frente àquele colégio com 4 andares cheios de candidatos. Lembro-me de encontrar com outro colega na entrada, amigo que também é evangélico, e disse à ele, olhando aquela imensidão de pessoas: “e pensar que daí vão sair somente 8”. Mas tinha fé que toda aquela gente estava em busca de 7 vagas, porque uma já era minha. Pois a “Fé é a certeza das coisas que se esperam a convicção de fatos que ainda não se vêem” (Hb 11.1). Por isso entendo que a fé é posse por antecipação na vida daqueles que confiam no Senhor. Fui para a prova e antes de iniciá-la fiz uma oração sobre ela. Após 5 horas de prova, voltei para minha casa acreditando na vitória. Cerca de 2 meses depois saiu o resultado. Eu estava dando aula, quando meu saudoso pai ligou para o colégio e me informou que havia passado naquele concurso, e mais em 5° lugar! Uma explosão de alegria tomou conta de mim. Agradeci a Deus ali mesmo. Mas depois da alegria, um detalhe veio à minha mente: eu ainda estava no 4° ano do curso de direito. Começava outra preocupação. Senti um misto de alegria e tristeza. Fui para os pés do Senhor. Meu Pai, Pr Nery disse: “meu filho, se foi Deus quem te permitiu passar neste concurso e chegar até aqui, ele tem o controle de tudo e te dará vitória”. Uma semana antes de sair a convocação dos 8 aprovados, uma das candidatas, que não concordava com uma questão do gabarito oficial, ingressou na justiça que suspendeu o concurso por meio de uma liminar. E o concurso permaneceu suspenso durante quase 10 meses. Durante este período conversei com todos os meus professores do último semestre, do 5° ano do curso de direito, e pedi para que antecipassem as provas e me ajudassem. Eles me apoiaram diante desta situação. Dois meses antes do fim do ano, ali estava, dentro do Gabinete do Reitor, num cerimonial de formatura antecipada. Quando saí dali com meu “canudo” na mão, recebi a notícia, que a liminar que suspendia a continuidade do concurso foi cassada, e que os aprovados seriam convocados para apresentarem a documentação exigida para contratação na próxima semana. Hoje sou pai de 3 filhos, segui os passos do meu falecido pai e me tornei pastor e continuo agradecendo a Deus por tudo que tem feito a minha vida, mesmo eu não sendo merecedor de tamanha benevolência. Estou longe de materialmente ter tudo que sonhei, mas posso me considerar rico em felicidade, paz, amor e carinho em ter uma família que me ama. Quero perguntar a você agora: Você acredita em sorte, acaso ou benção? Isso é o que nos diferencia: a FÉ e a CONFIANÇA no Nosso Senhor Jesus Cristo. Glória a Deus nas alturas. Toda a nossa vida deve ser dirigida de tal maneira para Deus, que não importa o que nos atinja, tristeza ou alegria, bençãos ou dificuldades, choro ou riso, mas que tudo seja imediatamente refletido para cima, para a Sua presença. Não se acomode, não espere, nada vem fácil nesse vida. Confie em Deus. Confie nas Suas promessas e com ação, trabalho e garra, acredite em seu potencial. Você pode!











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