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Esclarecendo um equívoco histórico sobre a data da criação da Assembleia de Deus no Amapá

 

Clímaco Bueno Aza (1874-1950) foi evangelista, colportor, pastor, fundador das Assembleias de Deus no Amapá, Maranhão e Minas Gerais, e considerado um dos maiores evangelistas desbravadores da história das ADs no Brasil.

Está havendo um debate histórico sobre a data correta do início da Assembleia de Deus no Amapá. Em meus vários artigos que já escrevi sobre a história da Assembleia de Deus no Amapá, tenho sustentado que a data de fundação da igreja Assembleia de Deus no Amapá é 26/06/1916 (data da chegada ao Amapá do Missionário Clímaco Bueno Aza) e não 27/06/1917 (data da oficialização formal da igreja) e a seguir mostro a razão que me convenceu. Eu sou um dos que concorda com essa tese muito forte, mais que uma tese, são fatos que precisam ser esclarecidos para o povo de Deus para se corrigir esse equívoco histórico. A origem da Assembleia de Deus nasceu com a chegada de Clímaco Bueno Aza no Amapá no dia 26/06/1916 e sua intensa atividade de evangelização realizada aqui. A oficialização da igreja foi realizada somente em 27/06/1917, mas foi apenas a formalização de uma obra que já havia sido iniciada de fato há um ano.  Não podemos ignorar o trabalho do Missionário Clímaco, que como colportor chegou aqui trazendo malas cheias de Bíblias, folhetos e evangelhos, e espalhou a palavra de Deus, evangelizou e causou tanto alvoroço trazendo as boas novas do evangelho de Jesus com sua chegada em Macapá, a ponto de incomodar o pároco local da Igreja dominante à época, e este mandar o delegado conduzi Clímaco à prisão do Fortaleza de São José de Macapá, além de mandar queimar seus livros e Bíblias em praça pública. Esse fato repercutiu bastante no pequeno povoado de Macapá, à época com pouco mais de mil habitantes. O missionário Clímaco só foi libertado uma semana depois, por um habeas corpus provindo da justiça do Pará com sede em Belém. A igreja em Belém do Pará ainda guarda esse documento do Habeas Corpus até hoje.

Clímaco foi escoltado até o cais da fortaleza e lhe foi dito que "nunca mais voltasse aqui". Mas a semente já havia sido plantada. Clímaco Aza não desanimou, segundo o historiador amapaense Edgar Rodrigues, houve uma segunda viagem, desta vez com reforço legal por meio de um salvo-conduto do chefe de polícia de Belém que, mediante o preceito constitucional da liberdade religiosa estabelecida no Artigo 72, parágrafo 3º da Constituição Federal de 24 de Fevereiro de 1891, determinava no Art. 72: “A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: § 3º - Todos os indivíduos e confissões religiosas podem exercer pública e livremente o seu culto, associando-se para esse fim e adquirindo bens, observadas as disposições do direito comum”. Vínhamos de um período em que o Estado se misturava à igreja, e a ideia de liberdade religiosa ainda era incompreendida. A igreja Assembleia de Deus no Amapá se formou em meio a perseguições e persistência de um povo aguerrido. Desde que Clímaco chegou foi hostilizado e enfrentou muitas dificuldades em permanecer aqui. Mais tarde houve ainda outro incidente de queima de Bíblias e livretos evangelísticos.

A queima de Bíblia em praça pública na tentativa de intimidar o avanço da chegada dos evangélicos assembleianos ao Amapá

Assim, após a primeira visita do Missionário Clímaco Bueno Aza em 26/06/1916, ele retorna no final do mesmo ano, numa segunda viagem recoberta de sigilo, e encarrega o evangelista Manoel José de Matos Caravela a responsabilidade de dar continuidade no trabalho que havia iniciado, portanto, já existia um grupo de evangélicos em Macapá da Assembleia de Deus, o que reforça a ideia de que a origem da igreja se deu com a difusão evangelística iniciada com o Missionário Clímaco Bueno Aza. E assim, em 27 de junho de 1917, foi oficializada a criação da Assembleia de Deus em Macapá/AP. Detalhe, formalizou-se de direito uma igreja que já existia de fato. O Pr Manoel José de Matos Caravela, formalizou a Assembleia de Deus no Amapá por conta do trabalho de evangelização que se espalhou com a chegada de Clímaco um ano antes.

Evangelista José de Matos Caravela  (1888-1958) 

Primeiro templo da Assembleia de Deus no Amapá


Sobre o ministério do Missionário Clímaco Bueno Aza pouco se fala no Amapá, sobre a sua história e sua vida. E isso precisa ser corrigido. Creio que o debate sobre a possível mudança da data de criação da igreja Assembleia de Deus no Amapá, além de corrigir esse equívoco histórico, vai revelar a intensa atividade evangelística do Missionário Clímaco não só aqui no Amapá, mas em vários outros Estado por onde ele ajudou a implantar a obra de Deus. Talvez muitos não saibam, mas o Missionário Clímaco em 1943, ao completar trinta anos de carreira ministerial, escreveu um documentário, com a primeira parte contando como aconteceu a sua conversão e início da carreira ministerial como colportor e evangelista. Esse texto foi publicado no jornal Mensageiro da Paz da primeira quinzena de janeiro de 1944. Clímaco relata:

“Foi numa linda manhã repleta de cores, no interior do Estado do Pará, que tive o meu encontro com Cristo. Nesse dia feliz, Ele pareceu-me não simplesmente aquele Cristo histórico e benfeitor; nesse dia, eu o contemplei em toda a sua plenitude. Eu o vi pendurado na cruz do Calvário, derramando o seu sangue inocente para me salvar. Vi cair sobre ele a maldição e o castigo que nos trouxe a paz. E além de tudo, pude contemplá-lo e aceitá-lo como meu único e suficiente Salvador. Finalmente nesse dia encontrei o meu melhor e real amigo. Amigo em toda a extensão da palavra. Aceitei-o de todo o meu coração”.

“Desde esse dia glorioso, tudo em minha existência mudou. O que anteriormente era dor e amarguras, transformou-me, agora, em um florido jardim de paz e felicidade. Usufruindo de tão grande alegria, nasceu em meu coração um ardente desejo de fazer com que outros também participassem da mesma felicidade!”

“Movido por esse desejo, foi que nessa ocasião (novembro de 1913) decidi abandonar meus negócios particulares para iniciar minha carreira evangelística, anunciando boas novas de salvação e falando de minha experiência pessoal aos que ainda viviam mergulhados nas trevas do vício e da ignorância religiosa”.

“Depois de expor esta minha resolução ao missionário Gunnar Vingren, que nesse tempo estava trabalhando no Estado do Pará, saí a trabalhar no interior do Estado, confiando exclusivamente em Jesus, pois não me fora marcado nenhum ordenado ou outro meio de subsistência. Iniciei-me, primeiramente, no serviço de colportagem, espalhando centenas de Bíblias e Novos Testamentos, e ao mesmo tempo anunciando o evangelho completo, aleluia!”

Após essa resolução, conforme o seu relato, Clímaco empreendeu a primeira viagem para a Estrada de Ferro Belém-Bragança, a fim de executar o trabalho pelo qual estava atraído e chamado por Deus para a sua realização. Acompanhado pelo missionário Daniel Berg, em muitas dessas viagens de evangelização, Clímaco Bueno Aza teve o privilégio de pregar o Evangelho pela primeira vez. Ele desenvolveu intensos trabalhos de evangelização nos últimos meses de 1913, e durante todo o ano de 1914. Percorreu todas as colônias, indo muito além de Bragança e congregações das Assembleias de Deus foram abertas em Igarapé-Açú, Benevides, Capanema, Timboteua, Catipuru, Peixe-Boi, São Luís, São Matias, Bragança, e outras cidades e povoados. Em 22 de março de 1914, Clímaco recebeu o batismo no Espírito Santo o que contribuiu para mais animá-lo e aumentar a sua confiança em Jesus, pois via cumprir-se nele uma das promessas do Senhor.

 

Depois dessa fase inicial, Clímaco foi para a região das Ilhas e Baixo Amazonas, nos anos de 1915-1916, onde realizou também intensa obra de evangelização e ganhou centenas de pessoas para Jesus. Ele deixou nesses lugares muitos crentes batizados no Espírito Santo. Em 1917, já casado com Júlia Galvão de Lima Bueno Aza, foi trabalhar em Bragança. Nesse ano ele passou a ser sustentado pela Igreja Filadélfia em Skõde, Suécia. Trinta anos mais tarde, na Convenção Geral das Assembleias de Deus realizada em São Paulo (SP), em 1947, a necessidade de se prover o sustento de Clímaco, já reconhecido como grande evangelista, foi o motivo para os pastores presentes debaterem a criação de uma caixa nacional de aposentadoria, que depois se constituiu na Cabejupase, cuja existência foi curta. Clímaco nessa época pertencia à AD de São Cristóvão e era sustentado pela AD de Madureira. Novamente em 1953, na Convenção Geral de Santos (SP), o amparo de Clímaco já falecido foi assunto da pauta ficando as Assembleias de Deus no Rio de Janeiro responsáveis por sustentar sua viúva, Júlia Bueno. Clímaco e Júlia tiveram quatro filhos. Ele morreu em 20 de setembro de 1950 no Hospital Evangélico do Rio de Janeiro.

Tem muito mais histórias sobre a vida missionária desse humilde servo de Deus, aqui fiz apenas um resumo de sua vida. A Assembleia de Deus no Amapá tem 107 anos e não 106. O povo da Assembleia de Deus, precisa conhecer mais sobre a história de sua própria igreja, precisa conhecer mais sobre a vida do verdadeiro fundador da igreja Assembleia de Deus no Amapá. Precisa corrigir esse equívoco histórico.

 

Recomendo que leiam o meu artigo sobre a história completa da Assembleia de Deus no Amapá.

http://drgesiel.blogspot.com/2021/07/conheca-um-resumo-da-historia-da.html?m=1

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