Está havendo um debate histórico sobre a data correta do
início da Assembleia de Deus no Amapá. Em meus vários artigos que já escrevi
sobre a história da Assembleia de Deus no Amapá, tenho sustentado que a data de
fundação da igreja Assembleia de Deus no Amapá é 26/06/1916 (data da chegada ao
Amapá do Missionário Clímaco Bueno Aza) e não 27/06/1917 (data da oficialização
formal da igreja) e a seguir mostro a razão que me convenceu. Eu sou um dos que
concorda com essa tese muito forte, mais que uma tese, são fatos que precisam
ser esclarecidos para o povo de Deus para se corrigir esse equívoco histórico.
A origem da Assembleia de Deus nasceu com a chegada de Clímaco Bueno Aza no
Amapá no dia 26/06/1916 e sua intensa atividade de evangelização realizada
aqui. A oficialização da igreja foi realizada somente em 27/06/1917, mas foi
apenas a formalização de uma obra que já havia sido iniciada de fato há um ano. Não podemos ignorar o trabalho do Missionário
Clímaco, que como colportor chegou aqui trazendo malas cheias de Bíblias,
folhetos e evangelhos, e espalhou a palavra de Deus, evangelizou e causou tanto
alvoroço trazendo as boas novas do evangelho de Jesus com sua chegada em
Macapá, a ponto de incomodar o pároco local da Igreja dominante à época, e este
mandar o delegado conduzi Clímaco à prisão do Fortaleza de São José de Macapá,
além de mandar queimar seus livros e Bíblias em praça pública. Esse fato
repercutiu bastante no pequeno povoado de Macapá, à época com pouco mais de mil
habitantes. O missionário Clímaco só foi libertado uma semana depois, por um
habeas corpus provindo da justiça do Pará com sede em Belém. A igreja em Belém
do Pará ainda guarda esse documento do Habeas Corpus até hoje.
Clímaco foi escoltado até o cais da fortaleza e lhe foi dito
que "nunca mais voltasse aqui". Mas a semente já havia sido plantada.
Clímaco Aza não desanimou, segundo o historiador amapaense Edgar Rodrigues,
houve uma segunda viagem, desta vez com reforço legal por meio de um
salvo-conduto do chefe de polícia de Belém que, mediante o preceito
constitucional da liberdade religiosa estabelecida no Artigo 72, parágrafo 3º
da Constituição Federal de 24 de Fevereiro de 1891, determinava no Art. 72: “A
Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e
à propriedade, nos termos seguintes: § 3º - Todos os indivíduos e confissões
religiosas podem exercer pública e livremente o seu culto, associando-se para
esse fim e adquirindo bens, observadas as disposições do direito comum”.
Vínhamos de um período em que o Estado se misturava à igreja, e a ideia de
liberdade religiosa ainda era incompreendida. A igreja Assembleia de Deus no
Amapá se formou em meio a perseguições e persistência de um povo aguerrido.
Desde que Clímaco chegou foi hostilizado e enfrentou muitas dificuldades em
permanecer aqui. Mais tarde houve ainda outro incidente de queima de Bíblias e
livretos evangelísticos.
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A queima de Bíblia em praça pública na tentativa de intimidar o avanço da chegada dos evangélicos assembleianos ao Amapá |
Assim, após a primeira visita do Missionário Clímaco Bueno Aza em 26/06/1916, ele retorna no final do mesmo ano, numa segunda viagem recoberta de sigilo, e encarrega o evangelista Manoel José de Matos Caravela a responsabilidade de dar continuidade no trabalho que havia iniciado, portanto, já existia um grupo de evangélicos em Macapá da Assembleia de Deus, o que reforça a ideia de que a origem da igreja se deu com a difusão evangelística iniciada com o Missionário Clímaco Bueno Aza. E assim, em 27 de junho de 1917, foi oficializada a criação da Assembleia de Deus em Macapá/AP. Detalhe, formalizou-se de direito uma igreja que já existia de fato. O Pr Manoel José de Matos Caravela, formalizou a Assembleia de Deus no Amapá por conta do trabalho de evangelização que se espalhou com a chegada de Clímaco um ano antes.
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Evangelista José de Matos Caravela (1888-1958) |
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Primeiro templo da Assembleia de Deus no Amapá |
Sobre o ministério do Missionário Clímaco Bueno Aza pouco se fala no Amapá, sobre a sua história e sua vida. E isso precisa ser corrigido. Creio que o debate sobre a possível mudança da data de criação da igreja Assembleia de Deus no Amapá, além de corrigir esse equívoco histórico, vai revelar a intensa atividade evangelística do Missionário Clímaco não só aqui no Amapá, mas em vários outros Estado por onde ele ajudou a implantar a obra de Deus. Talvez muitos não saibam, mas o Missionário Clímaco em 1943, ao completar trinta anos de carreira ministerial, escreveu um documentário, com a primeira parte contando como aconteceu a sua conversão e início da carreira ministerial como colportor e evangelista. Esse texto foi publicado no jornal Mensageiro da Paz da primeira quinzena de janeiro de 1944. Clímaco relata:
“Foi numa linda manhã repleta de cores, no interior do Estado
do Pará, que tive o meu encontro com Cristo. Nesse dia feliz, Ele pareceu-me
não simplesmente aquele Cristo histórico e benfeitor; nesse dia, eu o
contemplei em toda a sua plenitude. Eu o vi pendurado na cruz do Calvário,
derramando o seu sangue inocente para me salvar. Vi cair sobre ele a maldição e
o castigo que nos trouxe a paz. E além de tudo, pude contemplá-lo e aceitá-lo
como meu único e suficiente Salvador. Finalmente nesse dia encontrei o meu
melhor e real amigo. Amigo em toda a extensão da palavra. Aceitei-o de todo o
meu coração”.
“Desde esse dia glorioso, tudo em minha existência mudou. O
que anteriormente era dor e amarguras, transformou-me, agora, em um florido
jardim de paz e felicidade. Usufruindo de tão grande alegria, nasceu em meu
coração um ardente desejo de fazer com que outros também participassem da mesma
felicidade!”
“Movido por esse desejo, foi que nessa ocasião (novembro de
1913) decidi abandonar meus negócios particulares para iniciar minha carreira
evangelística, anunciando boas novas de salvação e falando de minha experiência
pessoal aos que ainda viviam mergulhados nas trevas do vício e da ignorância
religiosa”.
“Depois de expor esta minha resolução ao missionário Gunnar
Vingren, que nesse tempo estava trabalhando no Estado do Pará, saí a trabalhar
no interior do Estado, confiando exclusivamente em Jesus, pois não me fora
marcado nenhum ordenado ou outro meio de subsistência. Iniciei-me,
primeiramente, no serviço de colportagem, espalhando centenas de Bíblias e
Novos Testamentos, e ao mesmo tempo anunciando o evangelho completo, aleluia!”
Após essa resolução, conforme o seu relato, Clímaco
empreendeu a primeira viagem para a Estrada de Ferro Belém-Bragança, a fim de
executar o trabalho pelo qual estava atraído e chamado por Deus para a sua
realização. Acompanhado pelo missionário Daniel Berg, em muitas dessas viagens
de evangelização, Clímaco Bueno Aza teve o privilégio de pregar o Evangelho
pela primeira vez. Ele desenvolveu intensos trabalhos de evangelização nos
últimos meses de 1913, e durante todo o ano de 1914. Percorreu todas as
colônias, indo muito além de Bragança e congregações das Assembleias de Deus
foram abertas em Igarapé-Açú, Benevides, Capanema, Timboteua, Catipuru,
Peixe-Boi, São Luís, São Matias, Bragança, e outras cidades e povoados. Em 22
de março de 1914, Clímaco recebeu o batismo no Espírito Santo o que contribuiu
para mais animá-lo e aumentar a sua confiança em Jesus, pois via cumprir-se
nele uma das promessas do Senhor.
Depois dessa fase inicial, Clímaco foi para a região das
Ilhas e Baixo Amazonas, nos anos de 1915-1916, onde realizou também intensa
obra de evangelização e ganhou centenas de pessoas para Jesus. Ele deixou
nesses lugares muitos crentes batizados no Espírito Santo. Em 1917, já casado
com Júlia Galvão de Lima Bueno Aza, foi trabalhar em Bragança. Nesse ano ele
passou a ser sustentado pela Igreja Filadélfia em Skõde, Suécia. Trinta anos
mais tarde, na Convenção Geral das Assembleias de Deus realizada em São Paulo
(SP), em 1947, a necessidade de se prover o sustento de Clímaco, já reconhecido
como grande evangelista, foi o motivo para os pastores presentes debaterem a
criação de uma caixa nacional de aposentadoria, que depois se constituiu na
Cabejupase, cuja existência foi curta. Clímaco nessa época pertencia à AD de
São Cristóvão e era sustentado pela AD de Madureira. Novamente em 1953, na
Convenção Geral de Santos (SP), o amparo de Clímaco já falecido foi assunto da
pauta ficando as Assembleias de Deus no Rio de Janeiro responsáveis por
sustentar sua viúva, Júlia Bueno. Clímaco e Júlia tiveram quatro filhos. Ele
morreu em 20 de setembro de 1950 no Hospital Evangélico do Rio de Janeiro.
Tem muito mais histórias sobre a vida missionária desse
humilde servo de Deus, aqui fiz apenas um resumo de sua vida. A Assembleia de
Deus no Amapá tem 107 anos e não 106. O povo da Assembleia de Deus, precisa
conhecer mais sobre a história de sua própria igreja, precisa conhecer mais
sobre a vida do verdadeiro fundador da igreja Assembleia de Deus no Amapá.
Precisa corrigir esse equívoco histórico.
Recomendo que leiam o meu artigo sobre a história completa
da Assembleia de Deus no Amapá.
http://drgesiel.blogspot.com/2021/07/conheca-um-resumo-da-historia-da.html?m=1
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