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O pequeno aventureiro serrano - Por Gesiel Oliveira

Eu e meu irmão Anderson Oliveira no Rio Pedra Preta
No ano de 1986 quando eu tinha apenas 8 anos de idade, pela primeira vez fui a um cinema em Serra do Navio. Era a estreia do filme ‘O Incrível Hulk’ nas telonas. Por uma semana fiquei assustado e tendo pesadelos com aquela criatura verde. Eu saia correndo da sessão das 14h e ia direto com meus amigos em busca de mais uma aventura naquela cidadezinha tão pacata. Era um menino gordinho sapeca que costumava descer a montanha entre uma densa vegetação de grande porte, em uma encosta de montanha, para ir tomar banho com meus amiguinhos lá no Rio Pedra Preta, pertinho dali. Não existia telefone celular, e nosso maior compromisso era estar em casa até às 18:00h. Claro que era a minha única regra inquebrável. Quando eu não estava escalando montanhas, estava na piscina pública da vila primária ou tomando banho no Rio Pedra Preta. Eu gostava de atravessar de canoa para o outro lado do rio onde tinha uma linda cachoeira. Minha mãe teria um treco se soubesse como eu gostava de atravessar aquele rio na canoa dos moradores daquela pacata vila ribeirinha, às vezes eu mesmo remava sozinho. E como bom explorador, sempre escalava aquela cachoeira do outro lado do rio até chegar lá em cima, onde tinha um olho d’água de onde descia aquela límpida água. Ali eu tinha uma visão panorâmica espetacular de todo o vale. Respirava aquele ar puro e me sentia como se estivesse no topo do Everest, mesmo tendo subido apenas uns poucos metros. Volta e meia, quando estávamos no meio do trajeto de ida ou de volta, nos encontrávamos com a patrulha da ICOMI, que impunha as regras na vila àquela época. Corríamos pra dentro do mato e permanecíamos imóveis até eles passassem. Haviam relatos de que haviam onças naquela região, mas isso nunca nos amedrontou, nunca conheci ninguém que tivesse sido atacado por uma delas, e isso acaba por ter o efeito contrário sobre mim, pois me instigava a ir mais longe. Eu era movido a adrenalina. Outro desafio era chegar próximo à área da mina, sempre muito bem vigiada. Se eu fosse pego pelos patrulheiros era capaz do meu pai ser expulso da vila. Meu pai nessa época trabalhava nos correios, e estava sempre muito ocupado. Mesmo porque eu fazia parte de uma família de seis irmãos e mais quatro adotivos. As regras da firma eram inflexíveis, e eu já tinha um histórico de peraltices. Não cheguei a ser um “pestinha”, na verdade era muito mais curioso. E era essa curiosidade que me fazia sentir um explorador. Queria saber para onde iam aqueles caminhões de pneus tão gigantes, o que eles carregavam, para que serviam, como trabalhavam, queria saber o que tinha além dos limites daquela pequena vila, se eram verdadeiras as “estórias” que a minha mãe me contava que haviam gigantes de um olho só que viviam além das montanhas, e que por isso, eu não deveria ir lá, eram tantas perguntas para as quais eu não tinha resposta. Eu acreditava tanto nessas “estórias” que tenho a lembrança de ter subido na árvore mais alta dessa vila só para tentar ver esses monstros gigantes. De longe vi algo muito grande, e logo meu irmão mais velho e parceiro dessas aventuras, me garantiu que eram eles. Estremeci! Também diziam que embaixo das casas da vila de Serra do Navio havia muito ouro. E dessa forma, certa vez meu pai teve de reformar o piso da área de serviço de trás de casa, de tanto que cavei fundo procurando ouro. As telhas das casas padronizadas ao estilo arquitetônico americano, eram bem grossas. Lembro-me de correr por cima do telhado da nossa casa. Minha mãe era uma guerreira. Ela tentava me pegar e eu corria pro outro lado da casa por cima do telhado. E quando não tinha jeito, e eu percebia que ela ia me alcançar, eu descia por um açaizeiro que ficava ao lado de casa. Era uma espécie de saída rápida para situações urgentes, tipo aquele tubo inoxidável por onde descem os bombeiros na hora que toca a sirene de emergência. Estive nesse mesmo lugar recentemente, e com muita nostalgia relembrei de tudo, vendo o que sobrou, e como muitos desses lugares estão caindo aos pedaços, maltratados e cobertos pelo mato. Meu coração apertou. Vi o pequeno Club do Manganês em frente a praça, com o telhado todo caído e destruído pelo tempo, onde acontecia a tradicional festa da mina e a festa das flores. Meus olhos marejaram de tantas lembranças. Rever alguns desses lugares, onde passei parte da minha infância, pra mim teve o mesmo efeito que entrar em uma máquina do tempo . Senti reavivar no meu coração a boa sensação nostálgica daquele meu mundo encantado. Só quem viveu naquele lugar sabe do que estou falando. Sabe que esse mundo não foi destruído totalmente pelo tempo, mas continua vivo, basta fechar os olhos e abrir a mente que ele reaparece.

Comentários

  1. Parabéns pela crônica!simplesmente maravilhosa, eu vivi ali nós anos 70 e posso avaliar as suas belas recordações.

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