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Os alemães queriam criar uma “Guiana Alemã” no Amapá



 I- Relatos de nazistas no Vale do Jari: Uma cruz misteriosa

"Joseph Greiner morreu aqui de febre em 2 de janeiro de 1936 a serviço da pesquisa alemã". A placa, escrita em língua alemã, fixada em uma cruz erguida há 87 anos no pequeno cemitério adjacente à cachoeira de Santo Antônio no vale do Jari, na região do extremo Sul do Amapá, continua a despertar a curiosidade dos habitantes locais e estudiosos. Na verdade, poucas pessoas conhecem essa história escondida no interior do Amapá. Eles se encontram intrigados por um ambicioso empreendimento orquestrado por Adolf Hitler (talvez o ser mais abjeto que mundo já viu) durante o período entre guerras que visava estabelecer uma colônia na vastidão amazônica.

Os eventos que envolvem esta 'referência' remontam ao intervalo entre conflitos mundiais, quando os seguidores do nazismo conceberam uma iniciativa com roupagem de pesquisa, mas cujos verdadeiros propósitos eram permeados por espionagem e a coleta estratégica de informações. Dessa forma, no ano de 1935, uma equipe composta por cidadãos alemães aportou nas terras brasileiras com o início da então denominada 'Expedição Jari'. Uma enorme cruz medindo cerca de três metros de altura, atrai a atenção de quem navega pelo Rio Jari, o único canal de acesso à região. O monumento, estampando uma suástica, ganha ainda mais enigmas à medida que desvendamos sua origem obscura e enigmática, que remonta o período entre guerras. Naquela época, as doutrinas que se espalhavam na Alemanha buscavam estender suas nefastas raízes para além de suas fronteiras. No caso do movimento nazista, os alemães formavam expedições com o propósito de disseminar os ideais predominantes em seu país de origem. Contudo, quem poderia imaginar que eles se aventurariam rumo à Amazônia para dar vida a tal empreendimento?

 

Índios Aparai em registro do cemitério nazista feito em 1937

Interesses escusos

A ideia fixa de que Hitler tinha em encontrar o “Eldorado amazônico”, sempre motivou seus sonhos em empreender viagens ao interior da inexplorada Amazônia, em busca de uma cidade mística, além disso tinha planos para conquistar parte do território amazônico pela sua importante posição geopolítica e estratégica, especificamente o Amapá, adiciona um toque de obscuridade a essa história.

 

Durante a década de 1930, Joseph Greiner, de ascendência alemã, acompanhado por outros membros de sua organização nazista, desembarcou no interior do sul do Amapá, onde permaneceu por pelo menos dois anos. Com o intuito de explorar a região, três pesquisadores chegaram em um hidroavião, que mais tarde sofreu uma pane mecânica, representando o primeiro obstáculo enfrentado pelos europeus em solo brasileiro. Joseph Greiner, supostamente havia fixado raízes no Brasil antes da célebre incursão que ficou conhecida como a "Expedição Jari". Ele veio para o Brasil ainda em sua adolescência, com cerca de 15 anos. Apesar da idade exata não ser precisamente conhecida, ele tinha ultrapassado os 30 anos quando veio a falecer em 02 de janeiro de 1936. Ele era um indivíduo sem ligações familiares, solteiro e sem descendentes, um típico espião nazista.

 

Acredita-se que o pesquisador tenha sido contratado pelo governo alemão para obter dados, conhecer a cultura local, obter rotas de acesso em caso de uma possível invasão alemã e também para servir como intermediário entre duas culturas distintas, composta majoritariamente por indígenas Apalai e Waiãpis e os alemães. Ele não permaneceu por um longo período no lugar. O termo "pesquisa alemã" esconde, na verdade, um projeto clandestino de colonização nazista enraizado nas profundezas da Amazônia brasileira que estava sendo conduzida de forma sorrateira. O túmulo do alemão revelou as intenções claras de Hitler em meio a maior floresta do mundo, de estabelecer sua presença territorial na área, em um padrão similar ao ocorrido nas Guianas Inglesa, Holandesa e Francesa.

Registro da Expedição Jari em 1936


O real objetivo

Não se sabe ao certo se a intenção era implantar uma Guiana Alemã aqui no Amapá, ou se objetivava uma tomada da colônia na Guiana Francesa, mas é certo que os alemães não estavam no meio da floresta amazônica em uma área tão remota, simplesmente para catalogar insetos e animais. Não podemos esquecer que naquela época, a França era uma inimiga de longa data da Alemanha, desde os tempos da Primeira Guerra Mundial. O ressentimento em relação à França era evidente. Logo, é possível conjecturar que a investida também poderia ter como alvo a Guiana Francesa, que seria uma preparação para uma possível invasão em caso de conflito, o que acabou acontecendo em 1939 durante o início da 2ª Guerra Mundial. A hipotética colônia latino-americana foi objeto de estudo por 17 meses, durante os quais os cientistas coletaram informações e dados sobre a fauna, a flora da região e detalhes acerca das culturas indígenas que ali residiam. Há fotos que documentam os encontros entre os europeus e a Tribo Aparai, por exemplo.

A missão denominada de "Expedição Jari" foi um resultado da colaboração entre o governo alemão, o Ministério da Propaganda Nazista, a Organização das Relações Exteriores do Partido Nazista, em conjunção com o respaldo do Instituto de Biologia Kaiser Wilhelm, o governo brasileiro e o Museu Nacional do Brasil, localizado no Rio de Janeiro. De forma invulgar, a empreitada capturou o olhar da mídia nacional e angariou aprovação de diversos círculos da hierarquia nazista. Inicialmente disfarçada como uma pesquisa científica comum, suas metas foram apenas brevemente delineadas como uma jornada movida pela ânsia científica de desvelar conhecimento numa área em branco no mapa, conforme exposto por seu líder, Otto Schulz-Kampfhenkel, um zoólogo, documentarista e oficial da SS.

Nascido em 1910 nas proximidades de Berlim, Otto Schulz-Kampfhenkel, filho de um industrial, demonstrou escasso interesse pelos negócios familiares. Desde tenra idade, o jovem Otto acumulava insetos, répteis e outras criaturas, com sua paixão pela zoologia desaguando na obtenção de um diploma em biologia. Já reconhecido publicamente após a publicação de seu livro "Der Dschungel Rief..." (O Chamado da Selva...), um relato de sua expedição à Libéria entre 1931 e 1932, ele pessoalmente encabeçou a jornada que se desdobrou ao longo de 790 km no afluente amazônico, o Rio Jari.

Otto Schulz-Kampfhenkel, com seus 24 anos de idade, tocou solo brasileiro em julho de 1935 como o líder da expedição. Acompanhado pelo experiente piloto Gerd Kahle e pelo engenheiro e mecânico Gerhard Krause, eles fizeram uso de um moderno hidroavião Heinkel He 72 Kadett, que foi projetado para simplificar a exploração da região.

 

A expedição

Após a seleção de um número considerável de auxiliares, entre eles o alemão Joseph Greiner, a expedição partiu do acampamento principal nas proximidades da cachoeira de Santo Antônio, adjacente a Santo Antônio da Cachoeira. Em novembro, seis embarcações foram lançadas em direção à Guiana Francesa, iniciando uma jornada de estudo, exploração e mapeamento da topografia na região fronteiriça com o Brasil ao longo do curso do rio Jari. A progressão rumo à fronteira com a Guiana Francesa só se concretizou com o apoio fundamental dos indígenas, conhecedores das selvas e seus cursos d'água. Um membro da tribo aparaí concordou em liderar os exploradores. De maneira inadequada, Schulz-Kampfhenkel apelidou-o de "Winnetou", em referência ao célebre personagem fictício criado por Karl May.

Hidroavião alemão utilizado na expedição Jari em 1936


Numa reviravolta inesperada, o hidroavião Heinkel acabou por se acidentar, chocando-se contra troncos no rio Jari, e teve que ser devolvido à base. Todos os integrantes da equipe foram acometidos pela malária, difteria e febre amarela enquanto Schulz-Kampfhenkel enfrentou uma forma grave de difteria, e o líder dos trabalhadores, Greiner, sucumbiu à febre amarela. O túmulo deste último, situado no município de Laranjal do Jari, é marcado por uma suástica no topo de uma imponente cruz de madeira. Ao atingirem as águas superiores do rio Jari, o grupo estabeleceu acampamento próximo a um povoado indígena Aparaí, onde exploraram a selva e sua fauna, coletando espécimes zoológicos. Além disso, eles estudaram e registraram a cultura dos indígenas, gravando suas línguas, canções e danças tradicionais utilizando um dispositivo de gravação.

Foto da expedição Jari com Alemães nazistas ao lado de caboclos Amazônidas


Preparando a invasão

Um livro de 1938 achado recentemente num sebo em Berlim traz anotações precisas da expedição. Intitulado "Mistérios do Inferno da Mata Virgem", o diário do geologista e piloto Otto Schulz-Kampfhenker revela que os quatro oficiais alemães teriam outros interesses que os científicos - buscavam os acessos e caminhos do Amapá, região estratégica a ser ocupada na guerra que se aproximava.

Os exploradores levaram 11 toneladas de suprimentos e munição para 5 mil tiros. Enviaram para a Alemanha as peles de 500 mamíferos diferentes, centenas de répteis e anfíbios e 1.500 objetos arqueológicos. Produziram 2.500 fotografias e 2.700 metros de filme 35mm que mostram índios, caboclos, animais, peles, cobras e outros espécimes exóticos do mundo tropical. Eles também aproveitaram para testar um hidroavião com flutuadores de compensado de madeira, técnica inédita na época, e algumas armas e equipamentos não detalhados no livro.

 

"Papai grande" 

A missão foi repleta de incidentes inusitados. O piloto errou duas vezes a rota de Arumanduba, de onde partiriam. Somente ao chegarem ao rio descobriram que era raso, encachoeirado e pedregoso, inviabilizando o uso da aeronave. O jeito foi seguir a pé e de barcos, com a contratação de caboclos para fazer o trabalho braçal. Os alemães fizeram amizade com os Aparaís, e eles se apresentaram como "filhos do Papai Grande da Ciência" e moraram na aldeia durante quase um ano, período em que Schulz teve uma filha com uma das nativas.

 

A “uruca” da sucuri

A expedição, porém, continuava “azarada”. Além da morte de Joseph Greiner por febre amarela, vários membros da expedição morreram poucos dias depois. A expedição prosseguiu por mais um ano, até fevereiro de 1937, com ajuda de caboclos e índios. Malária, difteria, febre amarela e outras doenças, repetidos acidentes e apendicites atacaram os alemães. Otto quase perdeu a vida ao tentar subir as violentas corredeiras do rio acima.

Para os índios, os alemães estavam sendo castigados por terem matado uma sucuri de sete metros, animal sagrado cuja morte traz azar. A expedição terminou e os sobreviventes retornaram à Alemanha. Em seu diário, Otto anotou que concluíram a maioria das experiências técnicas "em prol de missões maiores no futuro". E assim os Alemães sucumbiram em seu projeto geopolítico de expansão e dominação pela desconhecida força do inferno verde amazônico, deixando para trás um cemitério cheio de nazistas. Sabe-se que esse caso de nazistas no vale do Rio Jari não foi o único caso de relatos de nazista no Amapá. Há um outro relato que aconteceu na década de 40 na Ilha de Santana, envolvendo reuniões secretas de um padre alemão que cuidava de um orfanato no meio da floresta e militares espiões nazistas em um submarino, mas isso, vou contar para vocês em um outro artigo.

 

II- Relatos de nazistas na Ilha de Santana

Sabe-se que esse caso de nazistas no vale do Rio Jari não foi o único caso de relatos de nazista no Amapá. Em meados da década de 1940, embora a data exata permaneça imprecisa, um caboclo ribeirinho difundiu pelas localidades interioranas um relato intrigante: ele afirmava ter testemunhado um submarino submergindo nas águas do Rio Amazonas, nas imediações da foz do Rio Vila Nova. Desse submarino emergiu um grupo de homens fardados com uniformes que não pertenciam às forças armadas do Brasil e que se dirigiram à Ilha de Santana. O autor deste relato, cujo nome desapareceu da memória dos antigos moradores, desencadeou uma onda de perplexidade nos dias que se sucederam. Esse relato está registrado na Revista Tempo Amazônico, escrito por Mauro Sérgio Soares Rabelo no artigo: "Histórias da Amazônia contada pelo povo: o orfanato São José na Ilha de Santana, no estado do amapá. Realidade ou lenda sobre a presença nazista".

 

Orfanato São José na Ilha de Santana em 1950

O acontecimento resultou até mesmo na detenção de padres estrangeiros Italianos e Alemães, que então supervisionavam o Orfanato "São José" edificado naquela década na Ilha de Santana, e que ainda hoje restam as ruínas na Ilha de Santana, e devido à suspeita de que o submarino fosse alemão e que os militares estivessem em serviço de espionagem em conluio com aqueles clérigos. Ao ser interrogado pelas autoridades, o caboclo, de certa forma confuso, modificou seu depoimento, agora mencionando ter avistado um "grande barco com duas velas". Enquanto alguns riram da situação, os próprios padres teriam ironizado, afirmando que o que o caboclo avistara era, na verdade, uma embarcação do tipo "regatão", comum na região, que comercializava bens com os ribeirinhos. No entanto, para alguns habitantes da Ilha de Santana, a versão original do caboclo, que narrava a presença de um submarino, poderia ter fundamento. Naquela época, circulavam boatos de que os padres residentes no Orfanato agiam de forma estranha e recebiam "visitas muito suspeitas" durante a noite, fato confirmado pelas louças sujas ocasionalmente encontradas na cozinha do orfanato.

 

A narrativa se estende ainda mais: conta-se que, quando emergia e se retirava do local de ancoragem, o submarino provocava ondas tão poderosas que levavam pequenas embarcações ao naufrágio. Esse fenômeno talvez explique a origem da lenda da "Sofia", que, por muitas décadas a partir de 1940, foi transmitida de boca em boca entre ribeirinhos e catraieiros sobre uma cobra gigantesca que eventualmente emergia a noite naquela região próximo a Ilha de Santana. A "Sofia" era descrita como uma enorme cobra com olhos brilhantes, vagando pelo meio do rio, descrição que poderia muito bem ser associada a um submarino com seus espelhos de periscópios, que são instrumentos para observação que emergem dos submarinos para examinar a superfície. Entretanto, oficialmente, não há documentação que comprove que os padres (religiosos) acolhiam marinheiros nazistas. Naquele período, a Alemanha era governada por Adolf Hitler. No entanto, é sabido que o Orfanato "São José" foi, de fato, construído por padres europeus em um terreno localizado nos arredores da Ilha de Santana. Esses padres permaneceram no local por um longo período até serem substituídos por padres italianos em 1948.

Há relatos de submarinos alemães visitando secretamente a Ilha de Santana na década de 40

O relato do caboclo ribeirinho foi compartilhado também no "Blog Santana do Amapá" por Manuel Rodrigues de Araújo, aposentado de 74 anos, na época do relato e publicação do artigo, em 03/10/2015, residente em Santana, que também viveu no Orfanato. Embora ouça muitas histórias sobre o submarino alemão, ele diz que não viu, mas ouviu sobre esse relato à época, que os eventos realmente tenham ocorrido. "Aqui jazia o orfanato, uma espécie de quartel, com horários para acordar e dormir. Era um lugar onde você aprendia marcenaria, conceitos escolares (ensino regular) que levava consigo para toda a vida", compartilhou o aposentado.

 

No entanto, sobre o relato do caboclo ribeirinho, pode-se afirmar que alguns fatos se encaixam de forma surpreendente, permanecendo silenciados ao longo das décadas. Uma testemunha viva de que "visitas eventuais" podem ter realmente acontecido naquele educandário é a Srª Raimunda Benedita dos Santos, conhecida como Dona Bené, à época do relato, com 89 anos. Naquela época, ela residia e trabalhava no local que originalmente servia como Casa de Campo para os Missionários da Sagrada Família (MSF), também conhecido como Retiro dos Padres. Posteriormente, foi adaptado para funcionar como internato para crianças e pré-adolescentes.

 

Dona Bené, com menos de 16 anos na época, subiu os rios da Amazônia acompanhada pelos pais e quatro irmãos. Por volta de 1942, sua família chegou ao município de Mazagão, onde fixou residência temporariamente. Eles conheceram um padre que os levou para residir no local religioso da Ilha de Santana. A jovem testemunhou situações suspeitas envolvendo um padre de nome Orlando Bahour, que residia no local. A comunicação com ele era difícil, devido a sua limitada habilidade com o português. Dona Bené observou momentos de impaciência por parte desse líder.

 

Visita inesperada

Segundo os relatos da aposentada, a convivência no local abrigava apenas três padres de diferentes nacionalidades, sendo que dois deles eram propensos a viagens frequentes. Nesse contexto, somente um padre permanecia, o de nome Orlando Bahour, que, segundo os moradores da Ilha, era de origem Alemã. Curiosamente, esse padre se tornou o protagonista de situações suspeitas, como mais tarde testemunhou a aposentada. Dona Bené descreveu que o referido padre tinha um domínio limitado do português e apenas conseguia se comunicar por meio de gestos. Ela contou que sua mãe chegava a dedicar até dez minutos para entender o que ele desejava comer ou o que pedia para ser feito. Dona Bené também mencionou ter presenciado várias ocasiões em que o líder religioso demonstrou impaciência. "Em certos momentos, ele parecia ter ficado irritado com a forma como limpávamos os corredores do lugar. O víamos gritar, mas não compreendíamos o que ele dizia, pois ele reclamava em sua própria língua."

 

Uma visita inesperada trouxe à tona uma série de acontecimentos intrigantes. Segundo Dona Bené, o padre alemão costumava deixar o retiro sem comunicar os caseiros, especialmente quando os outros padres viajavam. "Quando os outros padres viajavam, ele (padre Orlando) simplesmente partia do retiro, não dando nenhuma instrução aos caseiros. Ele desaparecia por horas e só retornava tarde da noite", revelou. Um desses momentos em que o padre Bahour estava ausente resultou na inusitada aparição de indivíduos desconhecidos na região, ocorrida no início do ano seguinte (1944). A aposentada narrou o episódio em detalhes: "Como minha família costumava dormir depois das sete da noite, minha mãe ouviu vozes altas provenientes do bloco que abrigava o refeitório do retiro. Ela me acordou e pediu que eu verificasse a origem do barulho. Peguei uma lamparina e fui até o refeitório."

 

No refeitório do Retiro — situado em um prédio distante dos dormitórios — Dona Bené testemunhou uma cena que a deixou momentaneamente imobilizada. Além do padre alemão presente, quatro homens uniformizados ficaram em silêncio conjunto ao perceberem que a jovem havia entrado. "Eles estavam conversando e rindo alto, e quando cheguei à porta do refeitório, todos ficaram subitamente em silêncio, o que me causou medo. Eles me observaram seriamente por um tempo considerável. Ao perceber os gestos do padre Orlando, me indicando para ir embora, afastei-me. Fiquei intrigada sobre a origem desses homens, já que o Retiro não era amplamente conhecido na região." Dona Bené descreveu a vestimenta e o comportamento dos homens de uniforme que visitavam o local naquela hora. "Todos usavam camisas e calças idênticas, como uniformes militares de cor escura. Dois deles tinham a camisa aberta, aparentando cansaço, e dois  portavam armas na cintura e não removiam as mãos dali."

 

No relato de Dona Bené, haviam no refeitório 4 homens fardados, além do Padre Alemão

Na manhã seguinte, uma nova surpresa aguardava Dona Bené: o refeitório estava parcialmente sujo, incumbindo-lhe a tarefa de limpá-lo completamente. "Parecia que uma festa havia ocorrido ali, e o mais curioso é que a partida desses homens não gerou qualquer barulho." Dona Bené compartilhou o ocorrido com sua mãe, mas ela preferiu ignorar o fato, com receio de perderem a moradia que lhes fora providenciada. Algum tempo depois de presenciar a cena, Bené soube de relatos de pescadores avistando possíveis submarinos nas proximidades do Retiro.

 

Segundo a aposentada, esses eventos a levaram a considerar a possibilidade de como essas visitas poderiam ter ocorrido sem fazer barulho. Sua família permaneceu no local até o final da década de 1940, quando o padre italiano Simão Corridori (recentemente chegado ao Amapá) adaptou o local para funcionar como um Orfanato "São José". A família de Dona Bené partiu para Macapá, onde reside atualmente. Viúva há quase duas décadas, ela é mãe de onze filhos, nove ainda vivos. A Amazônia guarda muitas histórias pouco conhecidas. Siga Gesiel Oliveira nas redes sociais e conheça mais sobre curiosidades históricas, geográficas e geopolíticas.

 

Fonte principais:

1) Cristóvão Lins, artigo publicado neste link:  https://serqueira.com.br/mapas/naziam.htm

2) Emanoel Jordânio; http://memorial-stn.blogspot.com.br/2011/06/nazismo-na-ilha-de-santana.html?m=1

3) Super Interessante, com informações "Das Guyana-Projekt. Ein Deutsches Abenteuer am Amazonas - Jens Glüsing, Cristoph Links Verlag, 2008" https://super.abril.com.br/historia/nazistas-na-amazonia/

4) Mauro Sérgio Soares Rabelo no artigo: "Histórias da Amazônia contada pelo povo: o orfanato São José na Ilha de Santana, no estado do amapá. Realidade ou lenda sobre a presença nazista" https://www.ap.anpuh.org/download/download?ID_DOWNLOAD=1970

5) Blog Santana do Amapá - http://santanadoamapa.blogspot.com/ “Os nazistas estiveram aqui na Ilha de Santana” - http://santanadoamapa.blogspot.com/2015/10/os-nazistas-estiveram-aqui-na-ilha-de.html

6) Expedição Alemã Amazônia-Jari; https://pt.wikipedia.org/wiki/Expedi%C3%A7%C3%A3o_Alem%C3%A3_Amaz%C3%B4nia-Jari

7) Sepultura nazista no Amapá completa 85 anos em meio a mistério sobre planos de Hitler para a Amazônia - https://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/2021/01/02/sepultura-nazista-no-amapa-completa-85-anos-em-meio-a-misterio-sobre-planos-de-hitler-para-a-amazonia.ghtml

8) Nazistas na Amazônia - https://super.abril.com.br/historia/nazistas-na-amazonia


Gesiel de Souza Oliveira, tem 45 anos, é macapaense, Oficial de Justiça, Bacharel em Direito e Geografia pela UNIFAP e em Teologia pela FATECH, Professor de Geopolítica, Professor de Direito Pós-Graduado em Direito Constitucional e Docência em Ensino Superior, é também pastor evangélico e fundador e presidente nacional de um movimento social cristão chamado de APEBE - Aliança Pró-Evangélicos do Brasil e Exterior que hoje está presente em dezenas de municípios, 16 Estados brasileiros e 9 países.



Comentários

  1. Muito importante esses relatos dos fatos históricos da nossa Amazônia

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