O grito silencioso: A epidemia do suicídio no Amapá e suas raízes ligadas a aspectos endógenos e socioeconômicas.
De acordo com informações do último levantamento sobre
segurança pública, uma média diária de 39 indivíduos tiram suas próprias vidas
no Brasil. Globalmente, estatísticas da Organização Mundial da Saúde apontam
para aproximadamente 700 mil casos de suicídio por ano, representando 1% de
todas as mortes registradas.
Embora a taxa global de suicídio tenha diminuído em 36% nas
últimas duas décadas, nas Américas, o número aumentou em 17% no mesmo período. O
Brasil está em contraste com essa tendência global, registrando um aumento
contínuo nas taxas de suicídio ao longo dos anos, especialmente em alguns
Estados, como o Amapá. Embora haja um aumento na conscientização e na busca por
tratamento, isso por si só não é suficiente para combater o problema.
O Estado do Amapá, situado na região Norte do Brasil,
enfrenta uma série de desafios sociais e econômicos que têm impacto direto na
saúde mental de sua população, incluindo o preocupante aumento das taxas de
suicídio. A relação entre os índices alarmantes de suicídio e os problemas
socioeconômicos é evidente ao analisarmos os dados disponíveis.
Os motivos para esses índices estarem tão elevados são
muitos, mas sem dúvida, podemos destacar que um dos principais fatores que
contribuem para o aumento do suicídio no Amapá é a falta de oportunidades
econômicas. Com altos índices de desemprego e subemprego, muitos habitantes
enfrentam dificuldades para sustentar suas famílias e alcançar uma qualidade de
vida satisfatória e o acúmulo de mazelas afetas diretamente a saúde mental da
população. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), a taxa de desocupação no Amapá era de 18,3% no último trimestre, uma
das mais altas do país.
Além disso, a migração em direção ao sul do Brasil é uma
realidade para muitos amapaenses em busca de melhores condições de vida e
trabalho. Essa migração pode ser atribuída, em parte, à falta de perspectivas
no estado, o que contribui para o enfraquecimento do tecido social e o
isolamento de muitos indivíduos, e aumento de pessoas com depressão, aumentando
com isso o risco de suicídio.
A violência também desempenha um papel significativo nesse
cenário. O Amapá enfrenta altos índices de criminalidade, incluindo homicídios
e assaltos, o que gera um clima de insegurança e medo na população. Segundo
dados do Atlas da Violência, o Amapá registrou taxa média de 63,2 mortes
violentas por 100 mil habitantes, o que o coloca como um dos Estados mais
violentos do país. Em pesquisa recente realizada no Amapá, apontou-se que entre
todas as mazelas sociais o maior medo do Amapaense é em relação violência,
seguido do desemprego e saúde.
A precariedade do sistema de saúde também é uma preocupação.
Com recursos limitados e falta de acesso a serviços de saúde mental, muitos
indivíduos que sofrem de problemas psicológicos, como depressão e ansiedade,
não recebem o apoio necessário. Isso pode levar ao desespero e à sensação de
falta de saída, aumentando o risco de suicídio.
As disparidades socioeconômicas e a falta de políticas
públicas eficazes para lidar com esses problemas são desafios adicionais. A
falta de investimento em educação, moradia e infraestrutura básica contribui
para a perpetuação do ciclo de pobreza e exclusão social, criando um ambiente
propício para o aumento dos índices de suicídio.
As altas taxas de suicídio no Estado do Amapá estão
intrinsecamente ligadas às condições socioeconômicas precárias, à falta de
oportunidades, à violência, à má saúde e ao desemprego. Para enfrentar esse
desafio complexo, é crucial implementar políticas que promovam o
desenvolvimento econômico e social, melhorem o acesso aos serviços de saúde
mental e fortaleçam os laços comunitários, oferecendo suporte e esperança às
pessoas em situação de vulnerabilidade.
De acordo com o Boletim Epidemiológico, a taxa geral de
suicídio no Amapá está acima da média nacional, que é de 7,2 óbitos por 100.000
habitantes. Se considerarmos os Estados com maior índice, veremos que o Amapá
tinha uma taxa até de 5,1 óbitos por 100.000 habitantes em 2016. Essa taxa aumentou
para 8,2 em 2018 e continuou crescendo em 2019, atingindo 9,1 óbitos por
100.000 habitantes em 2023. Isso eleva o patamar de risco do estado e acende
uma luz amarela.
Cuidar das pessoas ao nosso redor é um ato de amor e
responsabilidade que pode salvar vidas. Reconhecer os sinais que antecedem o
suicídio é crucial para intervir a tempo e oferecer apoio e ajuda adequada.
Seguindo a ideia dos "6 D's", é fundamental estarmos atentos a cada
degrau dessa escada descendente que indica um sofrimento profundo:
Desilusão: Quando
alguém próximo começa a expressar desânimo, desencanto ou desapontamento, é o
momento de prestar atenção. As desilusões podem se manifestar em diversas áreas
da vida, como relacionamentos amorosos ou profissionais, e podem ser o primeiro
sinal de alerta.
Desamparo: A
sensação de solidão e rejeição começa a permear os pensamentos da pessoa, mesmo
que não haja evidências objetivas disso. É importante oferecer apoio emocional
e mostrar que a pessoa não está sozinha, que existem pessoas dispostas a ouvir
e ajudar.
Desespero:
Mudanças no comportamento, oscilações de humor e reações impulsivas podem
indicar um estado de desespero latente. É crucial não ignorar esses sinais e
procurar compreender o que está por trás desse comportamento, oferecendo
suporte e buscando ajuda profissional se necessário.
Desesperança: A
pessoa começa a perder a fé no futuro, revivendo constantemente o passado com
saudades e remorso. A sensação de incapacidade e falta de propósito na vida se
instala, levando à melancolia e ao desânimo.
Desinteresse: A
perda de interesse por atividades que antes traziam prazer é um sinal
alarmante. A pessoa se isola, recusa convites e deixa de cuidar de si mesma,
manifestando uma profunda tristeza e falta de vontade de viver.
Depressão: O
estágio mais grave e perigoso, a depressão, se instala. Sentimentos de tristeza
profunda, desesperança, baixa autoestima e culpa dominam a mente da pessoa. É
nesse estágio que o risco de suicídio é mais iminente, e é crucial intervir
prontamente, oferecendo suporte emocional e procurando ajuda profissional
especializada.
É importante discutir o tema em associações, igrejas e
principalmente na família, não apenas em determinados períodos, mas ao longo de
todo o ano, criando uma consciência permanente de combate à depressão e ao
suicídio. É importante entender que esses sinais podem não se manifestar de
forma linear e nem todos os estágios são necessariamente vivenciados, mas estar
atento a quaisquer mudanças significativas no comportamento e no estado
emocional das pessoas ao nosso redor pode fazer toda a diferença na prevenção
do suicídio. O cuidado, o apoio e o amor são armas poderosas contra o desespero
e a dor.
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